Publicado 11/03/2018 15:36
As ameaças protecionistas de Donald Trump não vão funcionar, aposta Michael Hudson, pesquisador e professor emérito das universidades do Missouri, nos Estados Unidos, e de Pequim, na China. O presidente dos EUA impôs tarifas de importação sobre aço e alumínio com prejuízos para Brasil, Canadá, México, Coréia e Japão, entre outros países.
As ameaças tarifárias da Trump elevaram os preços do alumínio em 40% e os do aço em 33% nos Estados Unidos. Isso aumenta o custo e comprime o lucro dos fabricantes locais. Concorrentes de outros países estarão livres desses reajustes e serão mais competitivos diante de rivais que utilizam aço ou alumínio nos EUA.
Se o protecionismo levar à contratação de trabalhadores no setor siderúrgico, alerta Hudson, poderão ser demitidos em alguns meses. A Câmara de Comércio e outros grupos calculam que a perda de empregos nas indústrias que utilizam aço e alumínio superará em muito as admissões nas indústrias produtoras dessas matérias-primas.
Fabricantes de barris de alumínio para cervejarias, por exemplo, avisaram que se o custo do aço subir, não poderão competir com os preços dos concorrentes estrangeiros que compram mais barato suas matérias-primas.
A ideia do protecionismo industrial, do comércio livre britânico no século XIX à estratégia comercial dos EUA no século XX, explica Hudson, foi obter matérias-primas nos lugares mais baratos — fazendo com que outros países competissem para fornecê-los — e proteger seus fabricantes de alta tecnologia onde estão os grandes investimentos de capital, lucros e rendas de monopólio. Trump faz o contrário: aumenta o custo das matérias-primas de aço e alumínio, o que irá comprimir os lucros das empresas industriais que utilizam esses insumos sem proteger seus mercados.
"Há muitos bons argumentos em favor do protecionismo. Esses argumentos são, de fato, muito melhores do que a conversa mole de livre comércio usada para doutrinar os estudantes de economia nas universidades. De todos os ramos da economia dominante hoje, a teoria do livre comércio é a mais irrealista. Se fosse realista, a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a Alemanha nunca teriam ascendido ao poder industrial mundial."
A história econômica fornece bons argumentos para a adoção de tarifas protecionistas, sublinha Hudson. A Grã-Bretanha criou seu império com o uso do protecionismo, sufocando os manufaturados produzidos nos Estados Unidos. Depois que a Guerra Civil acabou, os EUA criaram e desenvolveram sua indústria e agricultura com farta utilização do protecionismo, assim como fizeram a Alemanha e a França.
Em resumo, os países avançados batalharam pelo protecionismo quando dele precisavam para criar e fortalecer sua própria indústria. Após se desenvolverem, passaram a pregar o livre comércio para exportar sua produção mundo afora sem restrições. O protecionismo de Trump coloca de novo o país na contramão, mas desta vez as chances de êxito parecem remotas.