Ricardo Cappelli: "Para onde vai a esquerda?"
Ricardo Cappelli, secretário da representação do governo do Maranhão em Brasília e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), faz uma análise sobre a conjuntura política e os impactos no processo eleitoral de outubro deste ano.
Publicado 02/03/2018 10:51
Para ele, da mesma forma que a direita procura um nome novo capaz de virar um pólo aglutinador, um nome que seja capaz de dialogar com o “chamado futuro” e unir forças, o mesmo poderia acontecer na esquerda.
Confira a íntegra do artigo:
Se não houver nenhuma reviravolta que contrarie a lógica, Lula não estará na urna. É um direito do PT manter a posição de levar sua candidatura até o limite. Ao decidir não antecipar qualquer alternativa, os petistas fazem duas grandes apostas.
A primeira é que esta é a melhor estratégia para conseguir uma transferência máxima de votos para seu plano B, lançando-o lá na frente na esteira da vitimização do ex-presidente.
A segunda aposta é que sozinhos conseguirão levar seu candidato ao segundo turno. Esticando Lula ao máximo, não será fácil o PT ser seguido por outro partido “no escuro”. O PT apostará no poder de Lula, na força de sua legenda e, no imite, na sobrevivência de suas bancadas.
O PDT marchará com Ciro. Os trabalhistas tentam atrair outras legendas. Se conseguirem ampliar, entram na disputa pra valer.
Os comunistas, sempre muito responsáveis, ficarão entre a afirmação necessária de sua identidade com Manuela, a necessidade de superar a cláusula de barreira, a eleição de sua bancada de deputados federais, o êxito de seu projeto estadual estratégico e o peso de serem igualmente responsáveis pela divisão. O PCdoB viverá um dilema.
Com o esvaziamento do projeto Joaquim Barbosa, vai ficando claro que o PSB não terá candidato pra valer. Pode ser coadjuvante com Alckmin, Ciro ou com o PT, ou ainda lançar um “Cristiano” que libere suas diversas correntes nos estados.
O PSOL irá de Boulos.
A pancadaria, que já começou entre o PT e PDT, chegando ao lamentável ápice com Lula e Ciro trocando golpes pela imprensa, será inevitável. Restará rezar e acender muitas velas para que uma destas candidaturas chegue ao segundo turno. A chance de fracasso e exclusão da esquerda passa a ser real. Infelizmente, a fragmentação é hoje o cenário mais provável.
Cenário 2 – A Sonhada Unidade
Lula, e só ele teria autoridade para conduzir, resolve construir um acordo entre todos os pré-candidatos estabelecendo condições objetivas para unificação em torno de uma candidatura, dentre as já postas, ainda no primeiro turno.
O melhor colocado nas pesquisas, cruzamento com pesquisas qualitativas, o que mais agrega numa consulta às forças do campo e etc. Seria um xeque-mate em qualquer discurso partidista que coloque projetos próprios em detrimento do país.
Com a unidade, se não de todos, mas da maioria entre PT, PDT, PCdoB, PSB e PSOL, a esquerda teria uma vaga cativa no segundo turno. Estaria no jogo.
Cenário 3 – Uma Novidade Unificadora
Da mesma forma que a direita procura um nome novo capaz de virar um pólo aglutinador, um nome que seja capaz de dialogar com o “chamado futuro” e unir forças, o mesmo poderia acontecer na esquerda.
É o cenário menos provável, mas não deveria ser descartado. Wagner, Haddad, Ciro, Manuela e Boulos são os nomes postos hoje.
Na impossibilidade, pelo desgaste do percurso ou pelas características pessoais, de unificação em torno destes nomes, poderia surgir algum nome do campo ainda não lembrado capaz de ser o aglutinador de uma Frente Ampla nucleada pela Esquerda?
A direita está se esforçando para pensar “fora da caixinha”, poderíamos também explorar esta possibilidade. Nomes nacionais respeitados por todos não nos faltam.
Façam suas apostas.