Irã está cumprindo o acordo nuclear, afirma relatório
O Relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), divulgado na quinta-feira (22), aponta que o Irã tem se mantido dentro das restrições impostas pelo acordo nuclear de 2015 firmado com outros países ocidentais, contrariando a desconfiança de Donald Trump
Por Alessandra Monterastelli *
Publicado 23/02/2018 15:57
O documento afirma que o Irã não excedeu seus limites nos estoques de urânio de baixo enriquecimento e de água pesada e não enriqueceu urânio acima do limite de 3,63% de pureza determinado pelo acordo, segundo informa o jornal Valor Econômico.
O acordo tem o objetivo de evitar que o Irã construa uma arma nuclear, e permitiu a suspensão das sanções econômicas contra o país por parte de países ocidentais em troca da fiscalização internacional do programa nuclear iraniano.
Os países signatários, entre eles o Reino Unido, França, Alemanha, China e a Rússia, demonstraram em diversas ocasiões a sua aprovação pelo acordo, reforçando a sua importância para a paz e a estabilidade mundial. Contudo, um deles parece insatisfeito: os Estados Unidos.
Em seu discurso agressivo na Assembleia Geral da ONU em novembro de 2017, criticado por diversos lideres mundiais, Trump acusou o Irã de ser uma “ditadura corrupta, que exporta violência, sangue e caos”; em resposta, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Javad Zarif, classificou as declarações do presidente como vergonhosas e ignorantes: “ele ignorou a luta do Irã contra o terrorismo, mostrando sua falta de conhecimento e inconsciência”.
Nesse seu primeiro ano de governo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não deixou de demonstrar a sua aversão pelo pacto, culpando a administração de Obama pelo “pior negócio da história” e pressionado países europeus e o Congresso americano para “consertar” o que chama de "falhas terríveis" no documento. Trump acusa o Irã de não estar cumprindo o acordo- apesar do relatório da AIEA e do Departamento de Estado americano, que confirmam que o Irã cumpriu e cumpre a sua parte.
Apesar das acusações contra o Irã e das exigências por parte da Casa Branca, sabe-se que a Administração Trump vem empenhando-se para facilitar a utilização do armamento nuclear norte-americano, flexibilizando os limites para a utilização de armas nucleares e criando uma nova ogiva de baixo rendimento que possa ser transportada pelos seus mísseis balísticos intercontinentais.
O que poderia estar por trás de tanta insatisfação do presidente norte-americano é a vontade deste de inserir na mesa de negociações questões não relacionadas à energia nuclear, como o programa de mísseis balísticos do Irã e a crescente influência da república islâmica no Oriente Médio- este ultimo fato, particularmente, preocupa e muito os EUA, uma vez que ameaça a sua influência e seus interesses sobre a região.
Em janeiro desse ano, Trump, sob os olhares tensos do mundo, decidiu permanecer no acordo; segundo ele, aquela foi a “última vez” que “isentou” o Irã, e avisou os países europeus para que revejam o acordo e corrijam seus “erros terríveis”. “Essa é a última hipótese. Caso não haja um acordo [entre os EUA e os países europeus], os Estados Unidos não irão manter a anulação das sanções para continuar no acordo nuclear iraniano”, afirmou. Na ocasião, a União Europeia se posicionou novamente a favor do acordo, e a chefe de sua diplomacia, Federica Mogherini, declarou que "a unidade é essencial para preservar um acordo que está funcionando, mantendo o mundo mais seguro e prevenindo uma corrida às armas nucleares na região"; o Irã, por sua vez, disse que o discurso de Trump reafirmou “uma tentativa desesperada de colocar em risco um acordo multilateral sólido”, e a Rússia considerou os comentários de Trump “extremamente negativos”. Em breve, os EUA deverão aprovar novamente sua permanência no pacto.