Publicado 19/02/2018 10:28 | Editado 04/03/2020 17:15
Nasci e cresci em meio a uma geração que manifestava sua preferência por “filhos homens” e considerava a mulher um objeto de propriedade do pai, do irmão mais velho e, depois, do marido, do filho… Sem vida própria, vontade própria ou algum traço de independência – o que caracterizava um tipo de violência discriminatória, machista e patriarcal.
Ainda hoje essa mentalidade persiste e, de certa forma, é naturalizada. Nenhuma mulher merece nem deve aguentar o sofrimento resultante de qualquer tipo de violência. Mas, ainda convivemos com o sofrimento invisível de mulheres que são (e estão) humilhadas demais para denunciar, machucadas demais para reagir, com medo demais para acusar, pobres demais para ir embora…
Pesquisas comprovam que a maior parte dessas agressões ocorre em casa e são praticadas por pessoas da confiança, como esposo, companheiros ou namorados. As mulheres têm contra si vários fatores que tornam a violência sofrida mais cruel. Sofrem com a agressão, muitas cuidam sozinhas dos filhos e dependentes financeiramente dos agressores. Estes, por sua vez, contam com a cumplicidade das instituições e da sociedade quando o assunto é violência doméstica ou feminicídio.
Apesar de alguns avanços – como a criação da Secretaria Nacional de Políticas para as mulheres (20093), a Lei Maria da Penha (2006) e as conquistas na implantação de políticas públicas garantidas em tratados internacionais, assinados e ratificados pelo governo brasileiro e pela Constituição de 1988 – precisamos continuar avançando e garantindo que não se perca nenhum direito conquistado. A violência contra a mulher é perversa e inaceitável, uma violação contra os direitos humanos. Como todo ser vivo, as mulheres precisam de carinho, cuidado, amor e respeito.
Cada vez mais, estamos conquistando maior autonomia aprendendo a defender nossos direitos e a recusar a naturalização da violência. Acreditamos e trabalhamos na construção de uma sociedade onde a mulher tenha um papel mais relevante, vivendo relações igualitárias por meio da superação de todas as formas de violência.
Izalene Tiene – leiga missionária, ex-prefeita de Campinas/SP
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