Cada Herói tem seu tempo, cada tempo tem seu Herói
O Carnaval de 2018 ficou marcado pelos protestos que agitaram as avenidas do samba contagiando foliões, e até mesmo os mais passivos espectadores, constrangendo a muitos com o espetáculo inesperado.
Publicado 14/02/2018 20:42 | Editado 04/03/2020 17:13
A arte cumpre assim com um dos seus papeis: como na tragédia Sheakeasperiana, em que o príncipe encena as circunstâncias da morte de seu pai Hamlet diante do assassino, desnudando-o, os artífices da Escola Paraíso Tuiutí levaram para a avenida uma verdade incômoda: o país privou do poder uma presidenta legitimada por mais de 50 milhões de votos para colocar no seu lugar um vampiro titereteiro.
Mas os protestos e a crítica mordaz não se restringiram aos palcos principais do carnaval brasileiro. O mesmo sentimento esteve presente em outros carnavais Brasil adentro. Na cidade de Joinville, a maior de Santa Catarina, a escola Gres Diversidade lembrou dos verdadeiros heróis do povo, como Chico Mendes, ou Zumbi. Mas não somente, cantou também os heróis do dia-a-dia tão desprestigiados com os projetos de desmonte social do Vampiro Neoliberalista. Um dos destaques da escola na ala dos heróis do dia-a-dia, a ativista social Mariana Franco, Vice-presidenta da UNALGBT em SC, enfatizou que “A escola GRES Diversidade trouxe a voz do povo para a avenida!”.
A escola de samba Unidos pela Diversidade surgiu em 2011 de movimentos sociais, e hoje é maior escola da cidade, vem lutando todo esse tempo por igualdade e respeito, não só no carnaval, mas como um retrato da nossa vida diária.
Num desfile histórico que levou 450 integrantes para a avenida Beira-Rio não poupou críticas ao governo local e também a grave crise política que assola o país. Dentre seus destaques a escola apresentou políticos na cadeia junto aos vilões infantis e o carro alegórico de “Desordem e Retrocesso” no qual foi retratada toda a falta de política social , o descaso com a cultura na cidade , e o desrespeito com as minorias. Joinville acompanhando a onda nacional vive um momento de desmonte da política cultural no qual a fundação cultural foi agregada à a secretaria de turismo, vivendo um momento em que o sistema de incentivo a cultura esta desacreditado.
Mas o Carnaval de 2018 nos mostrou o poder da arte e da cultura popular. O poder de mobilizar, de resistir e de se marcar presença. Para Inês Gonçalves, umas das diretoras da escola “O Carnaval mobiliza muita gente e articula a circulação econômica local, seja com o engajamento de dezenas de famílias no processo de construção de fantasias, ou do publico que sai de casa para prestigiar o espetáculo”
“Sabemos que nesse momento não reconhecemos mais heróis , mas temos que voltar a acreditar e perceber que ele está dentro de cada um de nó , basta tentar, confiar e acreditar. Nós somos os heróis do dia a dia." disse Rogério Souza Junior, vice presidente GRES Diversidade.