Publicado 09/02/2018 20:01
A secretária foi duramente agredida (física e moralmente), por duas senhoras, (quase pretas ou quase brancas), uma delas, inclusive, alegava ter sido vizinha da Secretária Olívia, por meio de palavras ofensivas tanto a sua condição de militante de esquerda quanto da sua origem racial e social. Apesar de ser uma pessoa experimentada nas lutas, a perplexidade estampada no rosto da Secretária, bem diz da violência da qual foi vítima.
Mesmo após a chegada dos policiais, que as conduziu a uma delegacia, uma das agressoras continuou a desferir sua catilinária fascista e racista, contra Olívia Santana, exigindo sua retirada daquele ambiente, pois a mesma era comunista e defendia favelados. Este é o quadro de ódio que está se gestando no país, por conta dessa sanha avassaladora contra os avanços que foram recentemente conquistados pela parte excluída e discriminada da nossa população. Neste sentido, importante afirmar, que isto não tem nada a ver com combate ou conivência com a corrupção, mas sim, defesa explicita de privilégios e iniquidades para uma elite.
No ocorrido, está pura e simplesmente o discurso do ódio contra pretos, pobres e assemelhados. É o discurso da Escola sem Partido e do Bolsonaro. É o discurso do fundamentalismo religioso e das intolerâncias de todas as ordens. É o racismo entranhado na profundeza da alma de boa parte dos brasileiros, conforme tenho abordado na Revista Raça, em artigos anteriores.
Note-se que as duas mulheres, não são nem caucasianas nem anglo saxões. Como diria Caetano, em sua antológica música – O Haiti é aqui, são quase brancas ou quase pretas, mas independente da coloração de suas peles elas estão impregnadas pelo ódio. Ódio a tudo que represente cidadania, inclusão ou democracia.
A fala delas é retrograda, chegando próximo da estupidez, ao afirmar que uma socialista não poderia ter um celular, pois isto é coisa do capitalismo. É quase uma capitã do mato, reproduzindo a fala do senhor de escravo, embora elas mesmas possam vir a ser vítimas desse ódio. Para mim, este episódio é mais uma alerta de que o fascismo está batendo em nossa porta.
Ou seja, a estratégia montada pelos setores conservadores de nossa sociedade está dando certo. Os porta-vozes e muitas vezes agentes da violência são os nossos iguais, nossos vizinhos e quiçá nossos irmãos/ãs. Portanto, não se iludam. Estes fatos não estão ocorrendo por obra e graça do acaso, é parte de uma estratégia muito bem urdida, nos porões do fascismo brasileiro, com o objetivo claro de nocautear e eliminar de uma vez por todas quaisquer possibilidades de alteração do profundo quadro de desigualdades (raciais, sociais, de gênero, etc.) que o Brasil vive há quase cinco séculos.
Daí, mais uma vez chamar a atenção dos nossos companheiros de viagem, sejam eles de esquerda ou não. O momento é de unir os democratas das mais variadas matizes para que asseguremos de um lado as conquistas duramente alcançadas em período recente e por outro impedir o avanço do discurso e das práticas racistas/fascistas que estão aflorando em nossa sociedade.
Para tanto, não basta apenas denunciar ou compartilhar nossa indignação nas redes sociais, é preciso agir, articular, mobilizar e se manifestar por todos os meios e modos, particularmente nas urnas em outubro de 2018 de que outro Brasil é possível, onde a democracia e a cidadania sejam pilares do nosso desenvolvimento.
Toca a zabumba que a terra é nossa!
*Zulu Araujo foi Presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon – Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.