Eva Schloss: "o ódio de hoje lembra muito o dos anos 30"
Com 88 anos, a amiga de infância de Anne Frank e sobrevivente do holocausto afirmou, em entrevista ao Estado de São Paulo, que o mundo não aprendeu nada com o nazismo
Publicado 05/02/2018 13:36
“O ódio está fazendo com que tenhamos um clima muito parecido ao que existia nos anos 30, às vésperas da 2.ª Guerra.” O alerta é de Eva Schloss, que nos últimos anos se dedicou a falar sobre os horrores da guerra. Agora, para que sua mensagem permaneça, ela fez parte de um projeto que transformará sua imagem em holograma, que correrá escolas de todo o mundo condenando a intolerância.
Na entrevista feita pelo Estado de São Paulo, Eva afirma que "o mundo está vivendo um período de insegurança. Muito ódio, preconceito e conflitos ao mesmo tempo. Parece o tempo de Hitler". Segundo ela, esse ódio está fazendo com que se estabeleça um clima parecido com aquele dos anos 30, pouco antes da Segunda Guerra.
Ela lembra que hoje o preconceito está em alta, e que a ascensão da extrema-direita por diversos países da Europa é muito preocupante. Segundo ela, apesar do salto tecnológico e da era da abundância, as pessoas se tornaram "mais mesquinhas". "Os bancos hoje ganham com nosso dinheiro e, ao mesmo tempo, não dão de volta nenhum tipo de juros aos clientes que depositam suas economias. Isso tudo leva ao ódio e à corrupção", completa.
Anne Frank, a garota que morreu em um campo de concentração e comoveu o mundo com a publicação de seu diário pessoal, escrito durante o tempo em que ficou escondida dos nazistas com sua família
Eva falou ainda da extrema importância de relembrar a história, para que as pessoas tenham consciência e não repitam erros do passado ligados ao ódio. Ao contar sua experiência no campo de concentração, lembra: "era desesperador". "Eu já entendia que era perseguida por ser judia. Eles nos diziam que viveríamos assim até o último de nossos dias. E isso não demoraria a chegar. Eu sabia que eu não aguentaria muito. No fim, tive sorte. No dia 27 de janeiro de 1945, Auschwitz foi libertada pelos russos".
Sobre sua amizade com Anne Frank, Eva contou ao Estado que ela era mais quieta e envergonhada, especialmente por já ter sofrido com o antissemitismo, enquanto Anne era mais segura de si, uma vez que sua família se mudou da Alemanha e se estabeleceu na Holanda cedo, evitando o sofrimento inicial com a tomada do poder pelos nazistas. Eva conta que as duas só se deram conta do real perigo que corriam quando suas famílias tiveram que passar a se esconder.
Anos mais tarde, o pai de Anne se casou com a mãe de Eva. Quando questionada sobre a sua relação com o pai da amiga, ela declarou: "eu tinha a impressão de que, quando ele me olhava, tentava entender como sua filha não tinha conseguido sobreviver".