China se opõe a declarações dos EUA e sai em defesa da Venezuela
O governo da China se posicionou nessa segunda-feira (5) sobre as ameaças feitas pelos Estados Unidos à Venezuela, depois da viagem do secretário Rex Tillerson a vários países da América Latina. Tillerson chegou a defender um golpe militar na Venezuela e criticou a China, dizendo que não há espaço para uma nova "potência imperial" na região; norte-americanos se preocupam com a constante perda de influência na região
Publicado 05/02/2018 14:09
O secretário norte-americano pediu, inclusive, para que os países do continente intervenham no país vizinho, liderado por Nicolas Maduro.
O Tesouro dos Estados Unidos acusou a China de ajudar o governo do presidente venezuelano com investimentos suspeitos envolvendo empréstimos em troca de petróleo. Em um discurso proferido na sexta-feira (2) no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, o principal diplomata especialista em economia do Tesouro dos EUA, David Malpass, disse que o foco da China nas "commodities e em acordos financeiros vagos" prejudicaram, e não ajudaram, países da América Latina.
Seu ataque ao papel chinês no apoio ao governo da Venezuela veio um dia depois de o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, ter aventado a hipótese de um golpe militar no país sul-americano rico em petróleo, antes de iniciar uma turnê de cinco dias pela América Latina, de acordo com informações do Brasil 247.
O porta-voz da chancelaria chinesa Geng Shuang disse que a cooperação financeira bilateral com a Venezuela foi estabelecida com base em princípios comerciais benéficos para os dois países. “O que os Estados Unidos disseram é infundado e extremamente irresponsável”, afirmou Geng.
A cooperação entre a China e a Venezuela auxiliou a construção de mais de 10 mil casas de baixo custo, a geração de eletricidade e o gasto com eletrodomésticos para três milhões de lares venezuelanos de baixa renda, acrescentou, segundo informa a Reuters.
“A cooperação China-Venezuela incentivou favoravelmente o desenvolvimento sócio-econômico da Venezuela e vem sendo aprovada e apoiada em todos os níveis da sociedade”, disse Geng. “Uma Venezuela estável atende aos interesses de todos os lados”.
Ainda segundo a Reuters, recentemente, após a imposição de sanções individuais e econômicas sobre Caracas pelos EUA, Maduro acusou Washington de tentar depô-lo para ter mais acesso à riqueza petrolífera do país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
EUA temem estar perdendo influência na América Latina
Washington advertiu vários países latino-americanos sobre os riscos da influência cada vez maior de Pequim na região e sobre os riscos de uma suposta dependência excessiva da segunda economia mundial, advertências vistas pela China como uma falta de respeito à política exterior dessas nações, informou o El País.
Enquanto a administração Trump rompeu acordos e questiona alianças, o gigante asiático impulsionou os laços políticos, culturas e sociais, com destaque para a América Latina; as viagens constantes de Xi Jinping continuam seguindo a proposta de construir "uma comunidade de futuro compartilhado". Na América Latina, a China, que há mais de dez anos é um importante parceiro comercial, aumenta agora sua influência política, cultural e social para ocupar o vazio criado pela ausente estratégia norte-americana. E, dessa maneira, a China acabou se tornando uma ameaça aos interesses estadunidenses sobre a região, que por décadas esteve presente interferindo continuamente na soberania e nas decisões dos países latino-americanos.
Tillerson, pouco antes de fazer uma viagem por países como o México, Argentina, Peru e Colômbia, afirmou que a região não precisa de “novas potências imperiais” e advertiu sobre a estratégia de se apoiar excessivamente na China, “que significa ganhos no curto prazo em troca de uma dependência no longo prazo”. O Ministério das Relações Exteriores chinês considerou que essa premissa é falsa e que o intercâmbio com a América Latina se baseia “em interesses comuns e necessidades mútuas”. Como a China defendeu até o momento, a sua aproximação com as outras nações acontece seguindo os princípios de “igualdade, reciprocidade, abertura e inclusão”.
A China reforçou recentemente seus laços com a região durante o segundo fórum ministerial entre o gigante asiático e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizado há apenas duas semanas em Santiago, no Chile, como informa o El País. O bloco decidiu apoiar, numa declaração oficial, a iniciativa chinesa da nova Rota da Seda – o megaprojeto de interconexão mundial idealizado pelo presidente chinês, Xi Jinping, que colocou sobre a mesa bilhões de dólares para investi-los em obras de infraestrutura que melhorem a conectividade. O objetivo, segundo o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, é que o país se transforme no “parceiro mais confiável” da região.