Retrospectiva de Basquiat chega a São Paulo no aniversário da cidade
Com 80 peças, chega a São Paulo no dia do aniversário da cidade (25 de janeiro) uma retrospectiva do artista Jean-Michel Basquiat. Apesar da curta carreira, entre os 17 e 27 anos, o nova-iorquino teve uma produção intensa, sendo considerado um dos nomes mais importantes da década de 80
Publicado 23/01/2018 17:54
Os trabalhos expostos no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da capital paulista, apresentam o pintor, desenhista e gravurista desde o início da carreira com os graffiti até o auge do processo, quando alcançou patamar elevado de valor no mercado da arte.
“A obra dele manteve a atualidade, um fascínio, tanto da parte visual, estética, quanto do conteúdo”, ressalta o curador Pieter Tjabbes, ao comentar como os trabalhos ainda mostram forte apelo, especialmente entre os jovens.
“Ele tem um trabalho intuitivo. Insere tudo o que está fazendo, pensando, o que está acontecendo ao redor dele entra nas obras, seja em imagens, seja em palavras. Ele é uma esponja”, acrescenta, ao explicar um pouco sobre o método de Basquiat, que costumava deixar o rádio e a televisão ligados ao mesmo tempo enquanto trabalhava no ateliê. “Ele era bombardeado por todas essas informações o tempo inteiro”.
Processo intenso
Essa estimulação com elementos de diversas fontes parece ser, na opinião do curador, um dos traços que aproxima o artista das gerações atuais. “Ele está em constante contato com o mundo ao redor. Isso talvez seja parte do apelo que tem hoje, essa nova geração é totalmente antenada, 24 horas por dia conectada em informação”.
A imersão era tão intensa que até o apartamento onde vivia se tornava parte de sua obra. “Ele pinta tudo que está no apartamento: a geladeira, a porta do banheiro”, comenta o curador. Essa porta, assim como outros objetos semelhantes usados como suporte pelo artista – esquadrias de janela e peças de madeira – pode ser vista na mostra. A exposição é, segundo Tjabbes, a maior do artista feita no Brasil.
O talento ímpar e o esforço trouxeram resultados rápidos para o jovem artista. Em 1982, com 21 anos, chegou a participar da Documenta de Kassel, na Alemanha, uma das principais mostras de arte contemporânea do mundo. O renome fez com que o valor de suas obras também subisse rápido, uma das razões, segundo Tjabbes, pelas quais é difícil encontrar os trabalhos de Basquiat em museus e instituições públicas.
“Quando os museus começaram a se interessar, os preços já estavam proibitivos. O resultado é que relativamente poucos museus têm obras dele nas coleções”, diz. As obras da exposição do CCBB são de uma coleção particular.
Música e negritude
Apesar da rápida ascensão, Basquiat ainda se sentia afetado pelo racismo, e a temática negra era uma presença constante em suas obras. “Ele era um artista negro, afroamericano, dentro de um meio de artes que era quase totalmente branco. Então, a obra sempre permeia esse viés de crítica sobre o sistema. Basquiat ressalta muito negros importantes na música e nos esportes”, lembra o curador.
A música, em especial o hip hop, era outra influência importante em seu trabalho. “A ligação que a obra dele tem com a música falada”, destaca Tjabbes. Mesclar palavras com imagens é também uma característica marcante de várias obras. Assim como a inserção de desenhos por meio de colagens. “O desenho aparece tanto como desenho mesmo, como nos quadros. Ele insere nos quadros, cola, pinta por cima”.
A exposição fica em São Paulo até abril, de onde segue para as unidades do CCBB em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, encerrando as exibições no Brasil em janeiro de 2019.