Trump usa o terrorismo para atacar a imigração
É o número do medo. Três de cada quatro condenados nos Estados Unidos por terrorismo desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nasceram no exterior. A informação, que havia sido guardada pela Administração norte-americana para evitar a xenofobia, foi liberado pela Casa Branca em plena negociação migratória em uma tentativa tão impiedosa quanto pouco sólida de vincular a acolhida de estrangeiros com a devastação terrorista
Publicado 18/01/2018 14:48
“Esse relatório revela de forma indiscutível que nosso sistema migratório mina a segurança nacional”, afirmou o procurador-geral, Jeff Sessions.
Donald Trump voltou a jogar nos extremos. Já em campanha equiparou migrantes e terroristas. E na Casa Branca seu primeiro gesto foi impor um veto muito severo, cuja formulação final afeta Irã, Líbia, Síria, Iêmen, Somália, Chade e Coreia do Norte, e em menor medida a Venezuela. A medida trouxe consigo uma enorme polêmica e até motivou a intervenção do Supremo Tribunal, mas de modo algum saciou Trump.
Sua meta, aplaudida por seus eleitores, é reformular o núcleo da legislação migratória. Já não se trata de receber, mas de selecionar e expulsar. Esse passo implica acabar com o reagrupamento familiar, impor um sistema de méritos, facilitar as deportações imediatas, reduzir à metade a entrada de refugiados e as permissões de residência, assim como liquidar as coberturas temporárias para estrangeiros, seja o programa para dreamers (700.000 pessoas) ou o estatuto que protegia os 200.000 salvadorenhos, 59.000 haitianos e 5.300 nicaraguenses.
A radicalidade dessa proposta tensionou a negociação legislativa. Os democratas rejeitam a mudança e Trump não deixou de colocar lenha na fogueira com seus impropérios (“países de merda” afirmou esta semana em uma reunião com parlamentares referindo-se a El Salvador, Haiti e alguns países africanos).
Nesse cenário e diante da falta de avanços, Trump recorreu agora à ameaça terrorista. O relatório que a Secretaria de Segurança Nacional divulgou ontem estabelece que de 11 de setembro de 2001 até 31 de dezembro de 2016 foram condenados nos EUA 549 pessoas por terrorismo internacional. Delas, 147 eram norte-americanos de nascimento, 254 eram estrangeiros e 148 procediam de outros países e tinham se nacionalizado. Ou seja, 73% tinha nascido fora dos Estados Unidos.
Apesar de serem cifras ínfimas para um país que concede a cidadania a um milhão de pessoas por ano (os condenados por terrorismo não chegam a 0,000034% dos nacionalizados desde 2001), para a Casa Branca serviram para criar seu discurso do medo.
“Esses dados representam só a ponta do iceberg. Agora mesmo temos sob investigação por terrorismo milhares de pessoas nos EUA, incluindo centenas que vieram como refugiados. Nossos agentes fazem um grande trabalho, mas não é possível pedir a eles que coloquem suas vidas em risco enquanto se continua admitindo milhares de pessoas por ano sem conhecer seus antecedentes”, disse Sessions. “Este relatório é um claro lembrete de que não podemos confiar nas políticas migratórias baseadas no pensamento prévio ao 11 de setembro e que nos deixam inertes diante de terroristas nascidos no exterior”, afirmou a secretária de Segurança Nacional, Kirstien Nielsen.