Grécia: população vai às ruas contra medidas do governo
O parlamento grego aprovou, na segunda-feira (15), um conjunto de medidas exigidas pelos credores internacionais em troca de um novo emprestimo de resgate financeiro. Nas ruas de Atenas, Salônica e outras cidades gregas, milhares de pessoas manifestaram-se contra as reformas
Publicado 16/01/2018 19:11
As medidas – caracterizadas pelos sindicatos como "antipopulares e antitrabalhistas" – foram aprovadas na segunda (15), quando nas ruas de Atenas cerca de 20 mil pessoas deixavam clara a sua oposição, além dos efeitos da greve de 24 horas convocada pelo setor dos transportes. De acordo com a Reuters, registaram-se paralisações no Metro e nos serviços urbanos ferroviários e alguns aviões não levantaram voo.
Enquanto a votação acontecia, a polícia usou a gás lacrimogênio para dispersar os manifestantes, que lançaram pedras e cocktails Molotov. Ainda de acordo com a Reuters, os confrontos foram breves.
O projeto de lei aprovado, com 154 votos a favor, introduz reduções nos apoios às famílias, facilita a realização das execuções hipotecárias e torna mais difícil convocar greves, exigindo agora que, nos plenários sindicais, haja um apoio mínimo de 50% dos filiados.
Com esse pacote de medidas antipopulares, o governo grego se encarrega de "executar as ordens do grande capital", tendo "como objetivo primordial banir o direito à greve", acusou a Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME) em comunicado.
"Tirem as mãos das greves!" foi precisamente uma das palavras de ordem que os trabalhadores filiados na PAME gritaram na mobilização que reuniu cerca de 20 mil pessoas em Atenas, de acordo com a Reuters, quando o debate do projeto já estava em andamento no parlamento. Outros mostravam faixas com a frase "não à escravidão moderna!".
O projeto de lei deixou muitos gregos insatisfeitos, que viram os seus rendimentos e condições de vida diminuírem desde que, em 2010, o país começou a ser "ajudado" pelos credores internacionais. A troco de milhões de euros, os governantes gregos realizaram reformas econômicas profundas e cortes na despesa pública que mergulharam o país numa profunda recessão econômica.
A aprovação dessas medidas é, na era das privatizações, das reformas laborais e das pensões impostas pela troika e implementadas pelo governo de Tsipras, um "êxito" para a coligação governamental Syriza-Anel, apesar do elevado desemprego, da recessão econômica e da situação de ruptura social que a Grécia enfrenta.
Em 2015, o Syriza ganhou as eleições com um programa eleitoral que nunca aplicou em seu mandato. No referendo o povo grego disse em sua maioria "não" ao terceiro resgate, mas o seu líder, Alexis Tsipras, acabou assinando-o.
Por isso, a PAME dirige fortes críticas ao Syriza, que "faz melhor o trabalho de liquidador dos direitos dos trabalhadores que a Nova Democracia [direita]".
"[Este novo projeto] acaba com o direito à greve… Essas coisas só aconteciam no tempo da Junta", disse o oficial da marinha mercante reformado George Papaspyropoulos, referindo-se à "ditadura dos coronéis" que prevaleceu na Grécia entre 1967 e 1974. "Esse governo só é de esquerda no nome; pelas suas ações, é uma junta", acrescentou.
Tsipras conseguiu ver este pacote aprovado antes da reunião de dia 22 do Eurogrupo, que irá analisar se o governo grego fez o necessário para que a terceira revisão do seu programa de austeridade fosse concluida, o que libertará um novo empréstimo de 6,5 mil milhões de euros.