Haiti, ONU e União Africana condenam palavras racistas de Trump

Presidente dos EUA nega ter insultado o Haiti e as nações africanas, mas foi prontamente desmentido por um senador democrata que esteve presente na reunião onde as palavras foram ditas. A África do Sul entregou um protesto formal contra as declarações de Trump na embaixada norte-americana

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Cresceu na sexta-feira (12) a condenação internacional às palavras do presidente norte-americano Donald Trump, que na quinta-feira (11), durante uma reunião sobre política migratória com membros do Congresso na Casa Branca, se referiu ao Haiti e a diversas nações africanas como “países de merda” (“shithole countries”, em inglês).

As afirmações atribuídas a Trump foram já criticadas por diversas organizações internacionais e pelo próprio Haiti, que diz que essas "refletem o racismo em relação à comunidade haitiana".

O embaixador do Haiti em Washington, Paul Altidor, revelou que o presidente do Haiti ficou "chocado" com as notícias: “eu falei com o presidente Jovenel Moise sobre o assunto e, claro, ele está chocado”, revelou, citado pela Reuters. O diplomata disse ainda que o ministro das Relações Exteriores haitiano convocou o representante norte-americano no Haiti para prestar esclarecimentos em audiência.

“Os haitianos não merecem esse tratamento”, disse ainda Altidor, lembrando a contribuição do Haiti na Revolução Americana no século XVIII.

O embaixador lamentou ainda a atenção dada aos comentários de Trump no dia do oitavo aniversário do terramoto que matou cerca de 220 mil pessoas na ilha.

O Senegal também reagiu através de uma mensagem do seu presidente, Macky Sall, pelo Twitter. O chefe de Estado disse que ficou “chocado” com os comentários atribuídos a Trump e escreveu que “a África e a raça negra merecem o respeito e a consideração de todos”.

As palavras de Trump também mereceram a condenação das Nações Unidas. O porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville, disse que não se pode "usar outra palavra que não seja 'racista'" para qualificar as declarações do presidente, que disse serem "uma porta aberta para o pior da humanidade". Colville considera que as afirmações de Trump, causadoras de "choque e vergonha", vão contra os valores globais pelos quais se luta desde a II Guerra Mundial e desde o Holocausto.

A União Africana qualificou as declarações de Trump como “francamente alarmantes”. “Tendo em conta a realidade histórica da quantidade de africanos que chegaram aos Estados Unidos como escravos, esta declaração vai além de qualquer declaração ou comportamento aceitável”, considerou a porta-voz da organização, Ebba Kalondo, em declarações à Associated Press.

Kalondo acrescentou que as declarações são “particularmente surpreendentes” vindas de um país que continua a ser um exemplo de “como a imigração deu origem a uma nação construída com base nos valores da diversidade e oportunidade”.

“Declarações como essas atingem os nossos valores na questão da diversidade e direitos humanos e afetam o nosso entendimento mútuo", disse.

Já a África do Sul entregou um protesto formal à embaixada dos Estados Unidos em Pretória contra os comentários do presidente norte-americano.

O Ministério das Relações Exteriores sul-africano disse que os comentários são “rudes e ofensivos”, e salientou que Trump não os desmentiu de forma categórica – o presidente disse que usou linguagem “dura” e disse que não usou “essas palavras”, não especificando quais.

“As relações entre a África do Sul e os Estados Unidos, e entre o resto de África e os Estados Unidos, precisam se basear no respeito mútuo e na compreensão”, disse o ministério em comunicado.

Trump nega comentários, mas é desmentido

Trump negou na sexta-feira (12), através do Twitter, ter proferido as palavras que lhe são atribuídas. O milionário eleito com o apoio do Partido Republicano admitiu ter usado "linguagem dura" durante o encontro, mas negou o teor racista ou degradante das declarações que lhe foram atribuídas na notícia avançada em primeira mão pelo Washington Post. Segundo ele, apenas se referiu a situação do Haiti: "nunca disse nada depreciativo sobre os haitianos, além de que o Haiti é, obviamente, um país pobre e problemático”. O Presidente disse ainda que quaisquer outras declarações são “uma invenção dos democratas” e admitiu começar a gravar as suas reuniões: “Infelizmente, não se pode confiar”.

No entanto, o senador democrata Dick Durbin, que esteve na reunião de quinta-feira (11), garantiu que Trump utilizou expressões "recheadas de ódio, vis e racistas" de forma repetida.

"Não consigo acreditar que na História da Casa Branca, na Sala Oval, alguma vez um presidente tenha proferido as palavras que eu próprio ouvi o nosso presidente dizer”, disse Durbin, citado pelo correspondente da CNN na Casa Branca, Jim Acosta.

As declarações de Trump não foram diretamente negadas pela Casa Branca até ao momento, tendo o porta-voz adjunto da presidência, Raj Shah, dito apenas, e em resposta ao New York Times, que "certos políticos de Washington escolhem lutar por países estrangeiros, mas o presidente Trump vai sempre lutar pelo povo americano”.

Dentro do Partido Republicano, a figura mais destacada a criticar Trump é Paul Ryan, líder da Câmara dos Representantes, que considerou as afirmações do presidente "infelizes".