Publicado 19/12/2017 13:29
Quem quiser ajudar a sociedade brasileira a planejar uma agenda positiva para 2018 terá pela frente uma tarefa muito difícil. No entanto, essa é a responsabilidade que enfrentamos hoje, tendo como pano de fundo uma das maiores crises já vividas pelo País, e as dificuldades crescentes trazidas com as perdas impostas à área de ciência, tecnologia e inovação. Também acirrada pela desaceleração econômica de setores chaves para o avanço tecnológico nacional.
Nesse contexto, pensar em uma agenda positiva, da perspectiva dos cientistas e professores da universidade, supõe um balanço do que foi feito nos últimos anos e a avaliação dos limites da nova situação. Um ponto auxiliar para o debate é lembrar que ganhamos considerável experiência e demos um salto qualitativo, com todas as restrições possíveis a fazer sobre esse processo.
Essa experiência abrange não apenas a produção científica e pedagógica em si, mas também o aprendizado de processos gerenciais, a assimilação de modelos internacionais de organização e a expertise no desenvolvimento de grandes projetos nacionais com base no conhecimento gerado pela excelência de pesquisas consolidadas em áreas estratégicas para o País. Alguns deles figuram entre as iniciativas de maior relevância para o conhecimento e preservação da biodiversidade em âmbito mundial.
Continuamos tendo como principal gargalo do sistema brasileiro de pesquisa e inovação a transformação do conhecimento da universidade em respostas tecnológicas para a sociedade. Quando se considera os dados totais, isto é, o conjunto das instituições de pesquisa, os números estão fortemente aquém do que se deveria esperar. Mas quem acompanha o panorama de CT&I ainda muito pouco difundido no País vê, ao mesmo tempo, aumentar de forma pontual, mas expressiva, o número e a qualidade de pesquisas consolidadas como respostas tecnológicas, principalmente na área de saúde, energias renováveis e agroindústria.
A agenda para 2018 parte também dos desdobramentos de um novo tecido legal para a área, que vai se constituindo por meio do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/2016 que altera a Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004 e várias outras anteriores relacionadas) e do Marco Legal da Biodiversidade (Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015).
Embora qualquer análise realista trabalhe com a sombria perspectiva de uma paralisia em muitos campos da pesquisa científica no País (financiamentos de grandes projetos nacionais, como, por exemplo, os INCTs), entre outros importantes de menor dimensão mas essenciais para ao avanço científico nacional, é desse patamar que podemos retomar a ideia de desenvolvimento alavancado por ciência e inovação.
Conhecer em detalhes e analisar essa realidade é o primeiro passo para pensarmos na agenda de 2018. Esse empenho supõe também um olhar mais amplo para o plano global, no qual o País vem perdendo posições. Os cientistas e educadores podem dar uma contribuição fundamental para o entendimento de um novo limiar de evolução da economia global.
Assinaladas em vermelho nesse cronograma estão as novas demandas que surgem com a emergência da chamada indústria 4.0. Em ritmo acelerado, a convergência de tecnologias acopladas à rede mundial, como os big data, internet das coisas e inteligência artificial, já está alterando radicalmente aquilo que conhecíamos como a indústria do século XX. A forma como o parque produtivo brasileiro vai se inserir nesse novo processo depende de conhecimento de excelência especializado em áreas que o País tem reconhecimento internacional. Esta realidade vai depender de uma opção do Estado brasileiro. De uma opção que esteja acima de interesses políticos – quais sejam investimentos para ciência, desenvolvimento tecnológico e inovação. É o caminho mais curto e eficiente para nos tornar competitivos no mundo global.