Sem ampliar refinarias, Brasil pode ter que racionar combustíveis
No governo Michel Temer, o Brasil teve o menor investimento público de todos os tempos, segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI): 2% do PIB entre junho de 2016 e junho deste ano. A Petrobrás também cortou R$ 1 bilhão em investimentos este ano e paralisou obras em refinarias como a Comperj e a Abreu e Lima.
Por Tereza Cruvinel, no Brasil 247
Publicado 17/12/2017 15:39
O resultado do desastre começa a aparecer: mesmo com as fabulosas reservas de petróleo do pré-sal, o Brasil pode enfrentar um racionamento de combustíveis a partir de 2.025. Sem capacidade de refino, e com problemas de logística para importar gasolina, diesel e outros derivados para atender à demanda interna – que aumentará se o país em algum momento voltar mesmo a crescer – o racionamento seria inevitável, com todas as consequências para a vida da população e para manter a própria economia girando. Este é um dos mais graves sinais da catástrofe que sendo desenhada pelo atual governo.
A advertência é de um estudo feito pela Consultoria norte-americana Strategy &/PwC, encomendado pelos grandes distribuidores nacionais, organizados no Sindicom, preocupados com os indicativos de que um gargalo perigoso está se formando na cadeia do petróleo.
O governo Lula planejou a expansão da capacidade de refino com a implantação de novas refinarias, como a Abreu e Lima (PE), já em funcionamento, e a Clara Camarão (RN), que produz todos os tipos de derivados. A maior delas, entretanto, a do Comperj (Polo Petroquimico do Rio de Janeiro) foi paralisada em função das investigações da Lava Jato.
Leia matéria sobre o assunto publicada neste sábado pelo Correio da Bahia.
Sem novas refinarias, Brasil pode ter problemas de abastecimento
O crescimento da demanda e o compromisso ambiental firmado na última Conferência Global do Clima vão exigir investimentos que podem chegar a R$ 95 bilhões até 2030
O País do pré-sal corre risco de um racionamento de combustíveis a partir de 2025 por falta de refinaria para processar o petróleo e de infraestrutura para importar. Segundo a consultoria Strategy&/PwC, o crescimento da demanda e o compromisso ambiental firmado na última Conferência Global do Clima vão exigir investimentos de R$ 87 bilhões a R$ 95 bilhões até 2030. Se nada for feito, em sete anos o abastecimento, especialmente de diesel, ficará comprometido.
O estudo foi encomendado pelo Sindicom, que representa as grandes distribuidoras. Ciente de que a Petrobrás não vai mais correr atrás da solução, como no passado, o sindicato começou a pressionar o governo com uma pauta de reivindicações que vai ganhar força a partir de 2018. O pesadelo das distribuidoras é que a economia finalmente cresça, mas falte infraestrutura para dar vazão ao potencial de consumo da população.
O presidente do Sindicom, Leonardo Gadotti, disse que o prazo e o tamanho da crise dependem do crescimento do consumo e dos preços. "Os problemas podem ser antecipados se o País crescer mais que o previsto. Mas o consumo pode ser reduzido por força de preço".
Para o sócio da Inter.B Consultoria, Cláudio Frischtak, "um eventual racionamento poderia levar a enormes perdas de bem estar da população, como em qualquer racionamento, sob o agravante de que o combustível é essencial para o deslocamento". Também poderia reduzir o crescimento da economia.
O estudo calcula um déficit de 19 bilhões de litros de combustíveis fósseis em 2030. Para cobrir a lacuna seria necessário ampliar a capacidade de produção em pelo menos 300 mil barris/dia. O gasto previsto é de R$ 33 bilhões. Para atender exigências da COP-21 o País precisará de R$ 7 bilhões para ampliar a produção de biodiesel e R$ 40 bilhões para elevar a oferta de etanol.
Se nada for feito, será preciso importar combustíveis, o que exigiria gastos em portos, tanques, ferrovias e dutos – de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões até 2030.