O chavismo e sua contundente hegemonia eleitoral
Três vitórias contudentes em menos de 140 dias confirmam o chavismo convincentemente como a força política majoritária da Venezuela em um sistema eleitoral reconhecido por sua transparência.
Por Angel Guerra Cabrera*
Publicado 16/12/2017 12:09
É o mesmo chavismo que levou em seus ombros e contra a corrente a Revolução Bolivariana e Hugo Chávez à presidência em dezembro de 1998.
O chavismo é uma cultura política com forte identidade, corporificada em um sujeito social anti-imperialista e socialista autóctone, que continua crescendo nas novas geações e estimulou o surgimento de importantes lideranças femininas. Suas três vitórias deste ano correspondem por ordem cronológica à eleição dos delegados à Assembleia Nacional Constituinte (ANC) em 30 de julho; dos governadores dos estados em 15 de outubro e em 10 de dezembro dos 335 prefeitos e o governo do estado de Zulia. Este último tinha ficado vago com a recusa pelo governador da oposição eleito de prestar juramento de posse perante a ANC.
Não são vitórias eleitorais comuns e correntes. A de 30 de julho desfez de maneira fulminante a brutal escalada de violência fascista lançada pela oposição contrarrevolucionária em cumprimento do plano Venezuela Freedom II do Comando Sul dos Estados Unidos, uma de cujas peças fundamentais era Luís Almagro, secretário geral da putrefacta OEA. As eleições subsequentes cancelaram por agora a viabilidade do golpismo e a subversão e pavimentaram o caminho para uma muito provável vitória de Nicolás Maduro na eleição presidencial de 2018 como candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela e as outras forças políticas do Polo Patriótico.
O chavismo detesta a violência. Seu método é impor-se pela persuasão, pelos argumentos, a mobilização pacífica, o bom governo que favorece a maioria, a arma do voto. Enfim, fazer política revolucionária. É indubitável que para poder fazer essa política foi decisivo o apego ativo e comprometido da Força Armada Nacional Bolivariana à Constituição, à paz e aos ideais bolivarianos e chavistas.
Os resultados das eleições municipais falam por si sós de tudo o que se afirmou até aqui. A revolução ganhou 305 prefeituras (92 por cento), a oposição 25 (7 por cento) e cinco prefeituras foram ganhas por outros partidos. A revolução se impôs em 22 de 24 capitais, incluindo Caracas e no estratégico estado de Zulia, de grande importância demográfica e possuidor de grandes jazidas de petróleo e gás. Agora conta com 19 de 23 governadores. Sua votação subiu em 945.746 votos em comparação com as eleições de 15 de outubro. A oposição sofreu uma queda ladeira abaixo de 2.103.575 votos. Isto refuta a tese de que teria havido abstencionismo de ambos os lados sustentada por comentários direitistas.
A liderança da oposição sofre um grande rechaço a sua violência demencial por uma parte de seus simpatizantes e uma amarga censura de outro setor fanático de seus aderentes prisioneiro do discurso do ódio, que lhe reprova não ter-se “livrado de Maduro” e de ter tido participação eleitoral. A maioria destes opositores se absteve.
Houve, ademais, três dos mais importantes partidos opositores – de rançosa trajetória golpista – que decretaram a abstenção. Não obstante, a maioria de suas referências municipais, desejosas de conservar espaços, se candidatou por meio de outras siglas, ainda que utilizando seus próprios aparatos eleitorais. Contudo, dominados pelas ambições pessoais, quase nunca se apresentaram unidos. De modo que ao dispersar o voto sua derrota foi mais estrepitosa.
Na alta votação do chavismo pesa muito a crescente elevação de sua moral de luta ao superar sua tremenda derrota nas eleições parlamentares de 2015, conjuntamente com a perda de seu extraordinário líder histórico Hugo Chávez e no enfrentamento aos constantes planos desestabilizadores e à cruel guerra econômica. Ao vigente decreto de Obama que declara a Venezuela como uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos, se soma a dura asfixia financeira ordenada por Trump.
A recomposição política e as novas vitórias do chavismo não teriam sido possíveis sem a capaz condução de Maduro, cuja liderança se consolidou apesar da feroz campanha midiática contra si. O povo aprecia sua constante dedicação à tarefa de proteger os mais desfavorecidos e de reforçar as missões sociais ante os embates da ascendente inflação induzida. Sua popularidade, atualmente em alta, supera a de vários de seus homólogos latino-americanos de orientação neoliberal.