Temer apela a empresários para pressionar deputados por reforma
Em discurso em evento da indústria elétrica e eletrônica em São Paulo, nesta sexta-feira (8), Michel Temer confessou que ignorou os interesses da população ao aplicar a agenda de reformas. Temer diz afirma que "aproveitou" a rejeição popular recorde para votar as medidas que tiram direitos, entrega o patrimônio nacional e desmonta o estado.
Publicado 08/12/2017 16:42
Durante a abertura do 22º Encontro Anual da Indústria Química, em São Paulo, Temer citou uma fala do publicitário Nizan Guanaes, marqueteiro dos tucanos, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, também chamado de "Conselhão".
"Ele disse o seguinte: 'Senhor Temer, aproveite a sua impopularidade e faça tudo o que o Brasil precisa'. Eu gravei muito aquilo, sabe? Falei que realmente é o que eu tenho que fazer. E por isso nós fizemos o teto dos gastos públicos, modernização trabalhista. […] Neste um ano e meio [de governo] o que fizemos foi aproveitando a impopularidade, aproveitando exatamente isso", disse.
Temer tenta se mostrar como um grande estadista. Sua retórica busca transformar a sua ilegitimidade e impopularidade num sacrífico que faz em defesa de um bem maior. Mas os interesses a que está a serviço não são da população, mas do mercado.
Se essa tese de aproveitar a impopularidade para fazer as reformas fosse verdade, o governo não teria gasto milhões com propaganda para defender a sua agenda.
Previdência
Ele diz que as medidas "foram discutidas no passado", mas por serem delicadas, não haviam sido levadas adiante. Trata-se de outro factoide, já que, em 2014, dois projetos antagônicos de governo foram apresentandos aos brasileiros, sendo o escolhido foi o que não previa tal agenda de reformas. Além disso, tais reformas foram aprovadas em tempo recorde e a sociedade não foi ouvida, apenas a grande mídia e o mercado.
Não é à toa, que Temer não pede que a população pressione os parlamentares a votar o texto da reforma da Previdência, mas aos empresários. Ele não escondeu que a sua proposta não interessa ao povo, mas especialmente ao setor empresarial que apela para que pressionem os parlamentares.
"Com toda franqueza, vejo os amigos empresários, a quem realmente interessa a reforma da Previdência, nos dizendo 'nós somos a favor'. Mas mais do que a favor, eu gostaria de pedir a vocês: saiam em uma frente de trabalho. Porque nós temos nesta semana, marcado agora para 18 ou 19, a votação. Os senhores todos que tiverem contato com os colegas, amigos deputados, senadores, que tanto ajudaram o governo, podem convencer desses argumentos. Mas é preciso mostrar que vocês continuam nos dando o apoio, mas nós apoiamos a Previdência", implorou.
Ainda sobre a reforma da Previdência, ele disse que a proposta que o Planalto quer aprovar até 22 dezembro – último dia antes do recesso parlamentar – ,não vai prejudicar o trabalhador e quem é contra a reforma da Previdência é "a favor dos privilégios".
O número de brasileiros contrários à reforma não para de subir. De acordo com pesquisa Vox Populi, 85% dos brasileiros são contra a reforma da Previdência, por considerarem que a medida representa “o fim da aposentadoria” e 71% acham que não vão conseguir se aposentar.