Tom Zé explica processo criativo e lembra de polêmicas na carreira

O irreverente músico baiano foi o convidado dessa semana do programa EntreVistas, da TVT. Provocador, diz que "Classe Operária" é uma de suas músicas "mais geniais"

Tom Zé

No programa EntreVistas de ontem (5), da TVT, o cantor e compositor Tom Zé descreveu, entre outros temas, seu processo criativo e disse que admira artistas que "chegam em casa, tomam uma dose de uísque e começam a tocar e escrever". Para ele, no entanto, a criar suas obras é completamente diferente. O baiano de Irará disse ter o hábito de acordar às 4 da madrugada, sentar para escrever algo que pensou durante a noite e dedilhar o violão até por volta das 8h, quando então toma café da manhã. Depois, volta para o violão e o papel até o meio-dia, almoça, continua a seguir o trabalho até as 18h, quando então finalmente para. “Eu não tenho inspiração, só tenho 'suação'”, definiu, bem-humorado.

Histórias como essa o artista multi-performático contou ao longo de quase uma hora de programa, como, por exemplo, ao dizer que a canção Classe Operária é uma de suas músicas “mais geniais”, inspirada, com certa ironia, em Padre Vieira (português nascido em 1608, morreu em Salvador, em 1697; escritor e orador, foi famoso pelos seus sermões).

Tom Zé também relembrou a incompreensão que sofreu quando compôs Complexo de Édipo, música que abre seu disco Todos os Olhos, lançado em 1973. Naquela canção, ele diz que o compositor brasileiro é complexado e se leva a sério demais. Segundo ele, o verso foi pensado na época em que os universitários eram seu público principal, mas houve entre ambos uma discordância relativa aos caminhos para se enfrentar a ditadura.

“Eu achava que lutar contra a ditadura precisava de um certo jogo de cintura, um certo humor, mas os estudantes acreditavam que a seriedade era a principal arma”, explicou, para logo em seguida se levantar e, agitado, declamar parte da música:

Todo compositor brasileiro
é um complexado

Por que então esta mania danada,
esta preocupação
de falar tão sério,
de parecer tão sério
de ser tão sério
de sorrir tão sério
de chorar tão sério
de brincar tão sério
de amar tão sério?

Ai, meu Deus do céu,
vai ser sério assim no inferno!

Durante a entrevista, Tom Zé ainda comentou sobre a nova geração da música brasileira, rasgou elogios ao rapper Emicida – “Tudo o que ele improvisa é quase um descobrimento, aquele homem é incrível” –, e citou o estudo realizado numa universidade inglesa (King's College), no qual a música brasileira é apontada como “seminal fonte de pesquisa” para compreender a cultura do país.

Tendo como cenário o palco do Tucarena, anfiteatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o EntreVistas estreou em 14 de novembro e propõe conversar com uma personalidade nacional ou internacional em áreas como saúde, educação, cultura, política, trabalho, esporte e direitos humanos, com temas atuais e de interesse público.

Confira: