Mestre Cupijó, a música do Brasil mais profundo
Em tempos de obscurantismo político, cultural e estético, nada mais apropriado do que resgatar e valorizar símbolos da mais profunda nacionalidade. Um deles é o paraense Mestre Cupijó, responsável pela modernização do “siriá” – intensa manifestação do sincretismo das músicas indígena e negra
Por Fernando Rosa
Publicado 07/12/2017 15:46
Nascido em Cametá, nas margens do rio Tocantins, no estado do Pará, ao Norte do Brasil, e batizado Joaquim Maria Dias de Castro, Mestre Cupijó é sinônimo do gênero – espécie de primo do carimbó.
Na origem do “siriá” está a dança de índios da região amazônica e o batuque africano dos negros, especialmente o “samba de cacete”, mas também o “banguê”, que preservaram a tradição nos quilombos (palenques, para os latinos). Segundo o Wikipedia, “o siriá é uma dança brasileira originária do município de Cametá, localizado no estado do Pará”. Reza a lenda que a expressão resultou da aparição milagrosa de siris nos rios da região, que passaram a suprir a deficiência de peixes e da caça na alimentação dos escravos das lavouras locais.
Mestre Cupijó cresceu em meio à música, ouvindo e depois participando da banda Euterpe Cametaense, da qual seu pai Vicente Castro, o Mestre Sicudera, era diretor. Antes dirigida por seu avô, a Euterpe Cametaense foi fundada em 1874, tornando-se a banda municipal mais antiga do Pará e, possivelmente, do Brasil. A banda Euterpe Cametaense foi a única a se apresentar nas festividades que sinalizaram o fim da escravidão no Pará em 1888.
Além da fusão original das influências indígena e negra, o multi-instrumentista Mestre Cupijó radicalizou a utilização dos sopros oriundos da banda, atualizando o gênero folclórico, agregando, ainda, a influência caribenha, como o mambo e o merengue. Sob o nome de Mestre Cupijó, ele lançou sete discos e uma coletânea em CD, que atualmente valem ouro nos mercados digitais. Apesar da importância de seu legado, Mestre Cupijó, morto em 2012, vivia da aposentadoria e magoado com a falta de reconhecimento pela sua obra.
Documentário
Após sua morte, sua sobrinha, a cineasta Jorane Castro, decidiu produzir um documentário sobre o mestre, contando sua história e mostrando sua obra – com apoio da Petrobras. No processo, surgiu a ideia de montar uma banda para executar as músicas de Cupijó, o que resultou no grupo Baile do Mestre Cupijó. Formado por onze músicos jovens da cena local, o grupo apresentou-se pela quinta vez no palco do Festival Se Rasgum, em show que impressionou a todos os presentes.
Siriá, por Mestre Cupijó: