Exposição reúne fotos feitas por prostitutas durante Olimpíadas no Rio
No sábado (9), acontecerá a abertura da exposição de fotos "O que você não vê: a prostituição vista por nós mesmas" e o lançamento da edição especial do jornal "Beijo da Rua", no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. A exposição reúne imagens feitas por pessoas que trabalharam em diferentes locais de prostituição na cidade do Rio de Janeiro durante o período dos Jogos Olímpicos e das Paralimpíadas, ao longo dos meses de agosto e setembro de 2016
Publicado 07/12/2017 16:26
Ao todo foram compartilhadas mais de 1.500 fotos em grupos de WhatsApp. De acordo com a prostituta e idealizadora da CasaNEM [espaço de acolhimento para pessoas trans], Indianare Siqueira, as transformações esperadas na cidade na área de infraestrutura não aconteceram. “Percebi que houve muita higienização e violações de direitos humanos na época dos Jogos, além de superfaturamento de obras. Fomos fotografando espaços onde só nós podemos adentrar e pela nossa ótica”, afirmou.
O evento é fruto de uma parceria entre as instituições – Davida, Observatório da Prostituição/IPPUR/UFRJ, Transrevolução, CasaNem, Grupo Pela Vidda, ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids), SPW (Observatório de Políticas da Sexualidade) e o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. “O Observatório da Prostituição tem focado na questões das violações dos direitos das prostitutas durante os megaeventos e esse processo, especificamente das fotos, foi pensado como uma forma de circular sentidos da prostituição desde a perspectiva das prostitutas como uma forma de reivindicar o direito à cidade”, disse Laura Murray, que compartilha a coordenação geral do projeto com Angela Donini.
Desde julho de 2016, foram diversos encontros e oficinas de fotografia com pessoas cisgêneras e trans que trabalham com prostituição e registraram seu cotidiano transitar na cidade do Rio de Janeiro, desde o café da manhã até o trabalho, nas regiões da Barra, Copa, Ipanema/Lagoa, Vila Mimosa, Centro, e Lapa principalmente. Quando questionada sobre seu caminhar na cidade hoje, Indianare destaca: “Vejo uma regressão em direitos humanos. A intolerância religiosa aumentou assustadoramente e a violência contra LGBTIs e mulheres também parece que se naturalizou”.
Beijo da Rua
Também, no sábado (9), será lançada mais uma edição do jornal “Beijo da rua”, em comemoração aos 30 anos do movimento de prostitutas. No dia 10 de dezembro de 1987, a recém-formada Rede Brasileira de Prostitutas organizou no Rio de Janeiro um ato público chamado "O Mangue Resiste" contra a remoção da antiga Vila Mimosa do Mangue. O evento foi realizado no Circo Voador, e contou com apoio de artistas e escritores. importantes da época Não podendo estar presente, Jorge Amado mandou um texto que, mesmo escrito trinta anos atrás, ainda remete ao que as prostitutas têm vivenciado durante os processos contemporâneos de "limpeza urbana" e "revitalização": "Meu desejo seria estar presente, em pessoa, ao ato público do 10 de dezembro, no Circo Voador, para assegurar minha total solidariedade à Rede Nacional de Prostitutas engajada em luta dura e difícil para denunciar as violências de que estão sendo vítimas os habitantes da região do Mangue, em especial as prostitutas, às quais são negados quaisquer direitos, os mais mínimos, vítimas de ‘grilagem urbana, especulação imobiliária, corrupção e irregularidades administrativas e discriminações sociais’. O que está sucedendo é algo monstruoso e deve despertar a indignação de cada um de nós, de todos os que desejamos o fim do arbítrio e da discriminação”.
As fotos e os relatos podem ser conferidos aqui
Exposição “O que você não vê: a prostituição vista por nós mesmas”
Data: 9/12 (sábado)
Horário: 15h
Local: Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica
Endereço: Rua Luís de Camões, 68, Centro, Rio de Janeiro (RJ)