Publicado 26/11/2017 18:32
Dirigente de uma organização que coloca no centro à luta por moradia, antigo drama brasileiro, seria a oportunidade do ativista demonstrar que sua influência vai além das seis mil famílias acampadas na grande São Paulo ou das rodas “caetanistas”, a esquerda classe média que se reúne para discutir o futuro do Brasil em animadas rodas de chopp na Vila Madalena, bairro boêmio da terra da garoa.
Formado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), conquistou espaço liderando ocupações urbanas ousadas e questionando os limites transformadores do Lulismo. Crítico dos governos Lula e Dilma pela esquerda, virou colunista da Folha de São Paulo, sempre com boas reflexões sobre a conjuntura brasileira. Com o golpe, sua posição correta de combate à ofensiva reacionária, e ocupações “incômodas” para a elite paulistana, acabou “democraticamente ejetado” das páginas da família Frias.
Se conseguir provar que numa quadra de defensiva histórica, num país da periferia do capitalismo mundial, é possível construir uma candidatura competitiva restrita à esquerda, terá dado grande contribuição ao debate de ideias no país. Se estiver errado, pode acabar cumprindo o mesmo papel caricato de Luciana Genro.
Dificilmente disputará contra Lula. Não correrá o risco de ver debitada em sua conta uma divisão que leve à derrota nas urnas o martirizado ex-presidente. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto possui fortes ligações com a CUT e com o próprio PT.
“Bígamo”, almoça com o PT e janta com dirigentes do Psol. Não quer nenhum dos dois. Sonha com um novo partido formado pela junção da esquerda petista com a parte lúcida que ainda resta no Psol. Inteligente, espreita a inabilitação de Lula. Se este momento chegar, fará a disputa pelo legado lulista “mais avançado” por dentro e por fora do PT. Lula, mais sabido que todos, tem suas razões para tentar mantê-lo por perto.
Seu movimento, o “Vamos”, inspirado no “Podemos” espanhol, parte de uma premissa questionável: o fracasso do lulismo. Na experiência espanhola houve um vazio a partir da derrota e da incapacidade da esquerda de se renovar. O mesmo quadro se apresenta no Brasil? As recentes pesquisas presidenciais parecem indicar que não.
As presenças de Boulos, Manuela, e no caso da inabilitação de Lula, se o PT optar por Lindbergh, experimentado quadro da esquerda que já liderou milhões pelo país, trariam inquestionável frescor e novidade à disputa. Bela companhia ao neste caso decano Ciro Gomes na construção de um caminho que deságue na desejável unidade do campo popular e democrático.