É a luta de classes, camaradas!
Nas últimas semanas vivemos situações emblemáticas do grau de retrocesso e obscurantismo em que vive o país.
Por Sandra Caballero
Publicado 16/11/2017 09:01 | Editado 04/03/2020 17:15
O jornalista da Globo W. Waack foi pego num ato claro de racismo e o que vimos foi, de um lado a reação corporativista de muitos de seus pares e, de outro, um debate superficial sobre a fala do apresentador do Jornal da Globo.
A questão fundamental é que sua postura não foi um deslize, como querem fazer crer seus defensores, assim como não é uma falha de caráter, como querem seus acusadores. Ele é representativo de uma elite de mentalidade escravocrata e que acha natural imputar a negros e às classes populares as mazelas do país. O racismo é uma estrutura de poder, inerente ao sistema capitalista e, por mais que a educação, conscientização e políticas públicas possam minimizar a situação, nunca será superada no atual sistema. Não queremos negros, mulheres ou gays explorando seus semelhantes ao assumirem postos de comando. O que significou para a superação do racismo a presença de Obama na presidência dos EUA? O seu mandato foi marcado pela escalada da violência policial contra afrodescendentes. O Capitalismo é, por princípio, excludente, não é possível humanizá-lo como defende uma certa esquerda.
Já no Congresso, uma Comissão formada por dezoito homens e uma mulher, decide através da PEC 181 inviabilizar qualquer forma de aborto. O Brasil que já tem uma legislação bastante restritiva, se unirá, em caso de aprovação pelo plenário, às Teocracias que tratam as mulheres como meras reprodutoras e subservientes à vontade masculina. Novamente, não é apenas uma questão de fundamentalismo religioso, mas a manutenção de estruturas de poder, citados acima. O controle da sexualidade feminina é uma das formas utilizadas pelo Sistema Capitalista para alienar, manipular e disciplinar as classes populares. Novamente temos que questionar o sistema e, não apenas, as questões religiosas ou machistas.
E por fim, no último dia 10, durante as manifestações contra a implementação da Reforma Trabalhista, no Polo Petroquímico de Camaçari, o sindicato patronal consegui uma liminar que proibia a ação do Sindiquímica, inclusive com a permissão do uso da força policial. Os diretores do sindicato foram citados nominalmente e só conseguiram atuar mediante um habeas corpus preventivo. Nem é preciso dizer que essa decisão judicial é uma afronta ao direito de manifestação e livre organização garantidos pela Constituição de 1988.
A correlação de forças se altera dependendo do momento histórico, no entanto a superação definitiva do machismo, racismo, homofobia ou da exploração do proletariado, depende do fim do Capitalismo e da construção do Socialismo.
Todos esses acontecimentos são apenas novos capítulos de um processo que se iniciou com o a articulação do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Por isso, é preciso entendê-los dentro do contexto, e não como atos isolados ou fruto de preconceitos raciais ou sexistas de indivíduos. Sendo assim, a busca de saídas só se dará com um projeto nacional que trate essas questões dentro de uma luta mais ampla contra o capital. Se agirmos isoladamente e nos deixarmos levar por visões parciais, fora do contexto da luta de classes, estamos fadados à pequenas vitórias e à grandes derrotas. Cabe aos comunistas assumir o protagonismo e colocar a questão classista acima do multiculturalismo.