Rússia acusa Coligação Internacional de proteger o Estado Islâmico
Os Estados Unidos defendem que os terroristas do Estado Islâmico (EI) estão "se entregando voluntariamente", sendo assim enviados ao abrigo da Convenção de Genebra. Uma reportagem da BBC também aponta para a proteção garantida pela coligação internacional ao EI em Raqqa
Publicado 14/11/2017 18:27
A aliança militar liderada pelos Estados Unidos procurou impedir que os aviões russos bombardeassem "as posições dos terroristas do Estado Islâmico nas imediações da cidade de al-Bukamal", na província de Deir ez-Zor, perto da fronteira com o Iraque, revelou em comunicado na terça-feira (14) o Ministério russo da Defesa.
A aviação da coligação internacional tentou prevenir os ataques de Moscou contra os terroristas "para garantir a sua saída segura" da zona, precisa o texto, acrescentando que os representantes norte-americanos também "se recusaram de forma categórica" a bombardear os terroristas, alegando que estes "se entregaram voluntariamente como prisioneiros", assim devem ser tratados de acordo com as normas da Convenção de Genebra, informa a RT.
Este fato e o fato de terem sido encontradas bandeiras das Forças Democráticas Sírias (FDS) – maioritariamente curdas e apoiadas pela coligação internacional – na cidade de al-Bukamal, que estivera sob domínio do EI, "são uma prova irrefutável" de que Washington utiliza os terroristas do chamado Estado Islâmico "para promover os seus interesses no Médio Oriente", quando afirma perante "a comunidade internacional estar lutando contra o terrorismo", acusa o Ministério russo.
O "segredo sujo de Raqqa"
Numa reportagem ontem publicada, a BBC revelou vários detalhes de um acordo secreto que permitiu que centenas de combatentes do EI e as suas famílias saíssem da cidade Raqqa, em meados de outubro, acompanhados e protegidos pela coligação liderada pelos EUA, pouco antes de as FDS decretarem a libertação da cidade.
O acordo em si mesmo não é novidade. Por um lado, a sua existência já tinha sido admitida pelas FDS e pelos EUA – embora os norte-americanos negassem qualquer envolvimento na sua celebração. Por outro, já havia sido denunciado pelo governo de Damasco e pelos russos.
Conversando com motoristas de caminhões, donos de lojas, contrabandistas – gente que participou na caravana de evacuação ou a viu passar –, a reportagem da BBC evidencia que o que se passou no 12 de outubro diverge muito da "aniquilação do Estado Islâmico" anunciada pelo secretário norte-americano da defesa, James Mattis.
Caravana de vários quilômetros
De acordo com o trabalho ontem divulgado, as FDS e a coligação internacional esforçaram-se por manter em segredo o pacto celebrado com o EI, que permitiu que 250 combatentes e cerca de 3500 familiares saíssem de Raqqa, no Norte da Síria, numa caravana formada por "cerca de 50 caminhões, 13 carros e 100 viaturas" do grupo terrorista.
Alguns dos que escaparam da cidade eram líderes destacados e procurados do EI. Na caravana, seguiam também dezenas de combatentes estrangeiros, de várias nacionalidades – apesar dos EUA ainda não terem admitido esse fato.
Imagens filmadas secretamente – antes da evacuação, que mais pareceu um "êxodo", a FDS se assegurou de que não havia cobertura midiática – mostram que os caminhões iam carregados de armamento, que os membros do EI levaram todas as armas e munições que puderam, "apesar do acordo estipular que só podiam levar armas pessoais".
Os condutores dos veículos afirmaram à reportagem que os EUA proveram a sua segurança a partir do ar.
Muitos dos combatentes espalharam-se pela Síria – Damasco e Moscou acusaram Washington de orquestrar toda a operação com o objetivo de reforçar as fileiras do EI na província de Deir ez-Zor, onde os combates com o Exército Árabe Sírio andavam intensos.
Outros conseguiram escapar para outros países, sobretudo pela Turquia, através de redes de contrabando.