Congresso do povo palestino na América Latina ocorre após 20 anos
O 4º Congresso da Confederação Palestina Latino-americana e do Caribe (COPLAC) ocorreu em Manágua, na Nicarágua, após 20 anos da sua última edição, entre os dias 19 e 22 de outubro. Emir Mourad, eleito Secretário Geral da COPLAC, fala ao Portal Vermelho sobre os detalhes atuais da luta do povo palestino
Por Alessandra Monterastelli *
Publicado 13/11/2017 18:57
A COPLAC foi fundada em 1984 em São Paulo e é responsável por integrar o setor de organizações populares e da diáspora no Conselho Nacional Palestino (CNP), instancia máxima da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Emir embarcou nessa segunda-feira (13) para a Palestina, com o intuito de levar às autoridades governamentais e não governamentais os resultados do Congresso e “transmitir o apoio das comunidades palestinas da América latina e Caribe à luta de libertação nacional do povo palestino e seus direitos inalienáveis ao retorno e autodeterminação”, como ele próprio afirmou em comunicado pelas redes sociais.
Em entrevista para o Portal Vermelho, Emir conta que em 1984 a OLP estava sofrendo um cerco militar e político muito grave por parte de Israel e seus aliados. Assim, foi fundada a COPAC, em um momento em que era necessário unificar as comunidades palestinas na América Latina e dar todo o apoio ao OLP, o único e legitimo representante do povo palestino.
O 4º Congresso ocorreu 20 anos após a sua última edição, feita em 1993 na cidade de Santiago, no Chile. Contou com a presença do ministro das relações exteriores da Nicarágua, além de dois representantes enviados pelo governo palestino. Segundo Emir, o evento em Manágua teve enorme êxito, tendo proporcionado um debate profundo sobre o estatuto e o balanço dos últimos anos, além da interação entre as delegações ter sido calorosa. “O pessoal estava realmente avido por se encontrar depois de tantos anos e aprovar uma plataforma de ação, podendo assim reformular seus estatutos para os novos tempos em que nos encontramos”, conclui ele.
A comunidade internacional quanto a questão palestina
Emir conta que o debate da questão palestina foi crescendo de patamar no Brasil desde o final dos anos 70. Em 2010 o presidente Lula reconheceu o Estado da Palestina. Hoje a embaixada oficial do Estado da Palestina existe aqui no Brasil, uma vez que a ONU, em 2012, reconheceu a Palestina como Estado. Isso dá mais força jurídica e política, tanto no nível regional quanto no nível internacional.
Com relação ao governo de Trump, Emir diz que, no plano efetivo, até agora nada mudou comparado aos outros governos norte-americanos, nem para pior nem para melhor. Contudo, apresenta preocupação do discurso político adotado pelo presidente. “Nós acreditamos que a Palestina precisa de apoio internacional, já que se trata de uma luta de libertação nacional. Do ponto de vista efetivo não há nada diferente dos governos anteriores quanto a gestão Trump. Já em termos políticos, deveriam ocorrer mudanças para que os EUA ajudem a Palestina”.
Ressalta-se, por exemplo, a grande afinidade política de Trump com o atual governo israelense, liderado pelo primeiro-ministro conservador Benjamin Netanyahu. Emir lembra que hoje Gaza continua cercada por ar, mar e terra: “é uma prisão a céu aberto desde 2006”. “Todas as dificuldades são impostas aos habitantes. A Cisjordânia continua sob total controle israelense: militarmente falando a Palestina está toda ocupada”, acrescenta.
Lembra, contudo, que diante da situação desenvolveu-se uma luta em todas as frentes- política e diplomática- pelo povo palestino, desde seus movimentos sociais até seus partidos políticos. “O objetivo é que a comunidade internacional realmente pressione Israel para que desocupe a Palestina, e para que sejam abertas negociações efetivas, isto é, com representantes palestinos, sem armas e tanques”.
O dia Internacional de Solidariedade Ao Povo Palestino
“O Presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, em seu artigo publicado no The Guardian, no dia primeiro de novembro de 2017, por ocasião do centenário da Declaração Balfour, afirmou: ‘Em seu escritório em Londres, em 2 de novembro de 1917, Balfour assinou uma carta prometendo a terra da Palestina à Federação Sionista, um movimento político recém estabelecido cujo objetivo era a criação de um Lar Nacional para os europeus judeus. Ele prometeu uma terra que não era sua para prometer, ignorando os direitos políticos de quem já morava lá. ‘”
Assim começa o documento que convoca para o ato que ocorrerá na segunda feira (27), às 19h, na Assembleia Legislativa de São Paulo, em homenagem ao Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, estabelecido por lei no Brasil no dia 7 de dezembro de 1984.
O arquivo ainda contextualiza sobre a história do conflito na Palestina, contando que, em 1947, a ONU era integrada por 57 países e o ambiente político era completamente dominado pelos EUA, que fizeram pressão sobre as pequenas nações. Com 25 votos a favor, 13 contra e 17 abstenções e, sem o consentimento dos legítimos donos da terra (o povo palestino), foi decidida a divisão da Palestina.
A resolução de nº 18 determinou a divisão da Palestina em dois Estados: o Palestino e o Israelense. Na partilha do território, 56% da área caberiam aos israelenses que, na fundação de seu Estado, ocuparam 78% do espaço e se valeram da força para promover a expulsão dos palestinos de seus lares e terras – que se refugiaram em acampamentos na Cisjordânia, Gaza, Líbano, Jordânia e Síria. Em 1967, Israel ocupou o restante do território que a divisão da ONU destinara à construção do Estado Palestino. Em 1977, a Assembleia Geral da ONU pediu que fossem celebrados todos os anos no dia 29 de novembro O Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, o dia em que, em 1947, a Assembleia Geral aprovou a resolução sobre a divisão da Palestina.
“A efetivação do Estado palestino independente, com Capital Jerusalém e o retorno dos refugiados conforme as resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral da ONU são questões cruciais à construção de uma paz com justiça e igualdade, uma paz duradoura para o povo palestino e todos os povos do Oriente Médio” conclui o documento, redigido e apoiado pelas várias frentes que lutam pela liberdade e soberania do povo palestino, sendo que essas últimas, após o reconhecimento do Estado da Palestina, só serão efetivas quando a terra for assegurada aos palestinos.
Ato Solene pelo Dia Internacional de Solidariedade Ao Povo Palestino
Quando: Segunda-feira, dia 27 de novembro de 2017
Horário: 19h
Local: Plenário Teotônio Vilela, Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo