Respirando por aparelhos, governo discute texto enxuto da Previdência
A maior demonstração de que a vitória na votação que engavetou a segunda denúncia contra Michel Temer foi uma derrota é a tentativa do governo de aprovar a reforma da Previdência. Temer se movimenta e corre contra o tempo para aprovar pelo menos três pontos do texto original que enviou ao Congresso Nacional ainda este ano.
Por Dayane Santos
Publicado 09/11/2017 11:17
Nesta quinta-feira (9), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), organizou um café da manhã em sua residência oficial para discutir com Temer, ministros e deputados a elaboração de uma versão enxuta da proposta que altera as regras previdenciárias.
Além de Maia e Temer, participaram da reunião os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e o relator da reforma da Previdência na Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA). Na quarta (8), o grupo já havia se reunido para discuto o tema.
O governo quer demonstrar ao mercado que ainda não desistiu da pauta. A pressão para que o governo pague a conta do golpe é grande. Não foi à toa que após Temer dizer que estava “jogado a toalha” em relação à reforma, o dólar subiu e a bolsa caiu, sinalizando que o mercado vai cobrar a fatura.
Agora, o governo busca rearticular a sua base aliada para entregar alguma coisa ou pelo menos demonstrar que tentou não sepultar da reforma. A proposta é reduzir o número de itens da reforma e camuflar o debate com a manutenção dos itens que atingem principalmente os que ganham os maiores salários do serviço público, para justificar a aprovação do texto e ter o apoio popular.
“O grande prejuízo da previdência brasileira é a área pública. Principalmente dos altos salários: juízes, promotores, fiscais, advogados da União, deputados, senadores. Esse é o alto salário. Essa reforma vai pegar os altos salários, que são os inimigos da reforma, e fortalecer os mais fracos na reforma. Ela vai ser boa para os baixos salários e vai corrigir a injustiça que existe, a aposentadoria bem cedo com um baita salário”, disse o deputado federal e vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS).
Arthur Maia declarou que está disposto a modificar o texto para o projeto ser aprovado, mas ressaltou que não abrirá mão da idade mínima de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres para aposentadoria. O relator também disse esperar que o tema seja votado no plenário da Câmara até 15 de dezembro.
Apesar da movimentação, o risco de derrota ainda é grande. Ainda mais quando o PSDB dá sinais claros de que vai desembarcar do governo. Temer quer tirar proveito dessa possível saída e oferecer aos descontentes os cargos ocupados pelos tucanos em troca do apoio à reforma da Previdência.
O Planalto já admite fazer uma minirreforma ministerial para acalmar a base. O chamado “Centrão” – que reúne partidos como PP, PSD e PR, entre outros – está na disputa pelos cargos e quer ganhar espaço político de olho nas eleições de 2018.
“Antes de pensar em qualquer coisa, o governo precisa rearrumar a base. Se o Planalto tem 200, 220 hoje e conseguir acalmar o clima aqui na Casa, consegue mais uns 100 deputados para apoiar a proposta. Eu conheço essa turma”, disse o líder do PP, Arthur Lira (AL), que defende abertamente a saída do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e a redução da cota do PSDB ao tamanho proporcional dos votos dados nas duas denúncias contra Temer.
“Não quero que tirem todo o PSDB do governo, mas podem diminuir as pastas. Não dá para um partido que deu 20 votos ter quatro ministérios. Se quiserem mexer no PP, que deu 84% dos votos para o governo, mexam. Só não nos tirem a Saúde”, disse Lira.
Mas nem todos estão tão empolgados com as propostas oferecidas por Temer. Para o vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), independentemente de qualquer gesto do governo de recomposição da base, não há clima para que a proposta seja aprovada.
“A reforma da Previdência virou um demônio para a população. Ninguém quer defender qualquer mudança nas regras da aposentadoria porque sabe que perde voto. O governo perdeu a batalha da comunicação”, argumentou.