Maia após reunião com Temer sobre Previdência: Governo não tem votos
Michel Temer está correndo contra o tempo para tentar articular a votação de um texto da reforma da Previdência. O governo já admite que não vai conseguir votar o texto original enviado co Congresso Nacional e tenta evitar o sepultamento da proposta que representa um retrocesso aos direitos dos trabalhadores brasileiros.
Publicado 08/11/2017 12:29
Temer se reuniu na manhã desta quarta-feira (8), no Palácio do Planalto, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O encontro foi para saber até onde dá para negociar a proposta.
Após a reunião, Maia admitiu em tom pessimista que, se tivesse voto, daria para votar a reforma, mas o governo não tem nem mesmo entre os parlamentares d base aliada.
"Se tiver voto, dá para aprovar [a reforma da Previdência] amanhã, mas não tem voto. A PEC já está pronta para o plenário. O problema não é o dia que a gente vai votar, é quando a gente tem as condições para aprovar. Não podemos ter irresponsabilidade de pautar de qualquer jeito e perder", disse.
Enfraquecido, o governo é o mais impopular da história, com 3% de aprovação, segundo pesquisas. A base aliada na Câmara, maioria na Casa, engavetou as duas denúncias da Procuradoria-Geral da República contra Temer arca com o ônus de manter um governo ilegítimo às ésperas da eleições de 2018.
Para o vice-líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), as coisas só vão andar se ficarem a cargo de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE). “O Temer está desgastado politicamente. Estamos desde maio batalhando para derrubar as denúncias contra ele. Ele, pessoalmente, não tem condições de articular mais nada”, afirmou Pauderney.
Maia já avisou que o governo não tem os 308 votos para aprovar o texto e pode ate tentar aprovar pontos fundamentais, classificando como reforma possível. O próprio Temer admitiu em entrevista que está sozinho e que não conseguiria aprovar as alterações previdenciárias sem o apoio da base.
O mercado cobrou a conta da golpe prometida por Temer. As declarações fizeram o dólar subir, e a bolsa de valores caiu. Temer correu para divulgar um vídeo na noite desta terça (7) para dizer que não desistiu e que tem "toda a energia" voltada para a reforma da Previdência.
Ainda que o texto original não seja aprovado, a reforma possível é profundamente prejudicial aos brasileiros. O governo trabalha em uma emenda aglutinativa que estabeleça uma idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres; um teto único de R$ 5,4 mil de aposentadoria do serviço público e da iniciativa privada; e a retirada dos inscritos no Benefício de Prestação Continuada (BPC) das mudanças nas regras da aposentadoria.
Nas contas do governo, as medidas representariam metade do valor previsto na proposta original, ou seja, R$ 300 bilhões.
“O jogo tem de ser jogado aqui dentro, claro. Mas não adianta se não tiver torcida. Se os empresários e os profissionais liberais não convencerem os deputados que votar a reforma da Previdência pode dar votos, eles não vão votar”, diz o vice-líder do PMDB na Câmara, Carlos Marun (MS), que integra a tropa de choque de Temer e que também participou da reunião nesta quarta.
Na estratégia de comunicação, o governo tenta – com apoio da mídia – dizer que a reforma é necessária para enfrentar a crise. Tenta ainda emburrar para os parlamentares a suposta culpa por não aprovar o projeto, na expectativa de que os parlamentares se sintam coagidos a acelerar o debate.
Paralelamente a isso, Temer também oferece a falsa ideia de que os deputados e senadores podem votar o texto, pois as mudanças no texto original seria fruto da ação do Congresso que “derrubaram as maldades do Planalto”.
Apesar disso, o governo ainda não criou as condições para garantir que o texto seja colocado em votação.