Almirante Othon: Minha prisão atendeu interesses internacionais
Em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada nesta terça-feira (7), o ex-presidente da Eletronuclear, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, afirmou que foi preso e condenado pela Lava Jato sob os auspícios de "interesses internacionais".
Publicado 07/11/2017 12:30
Considerado um dos mais importantes cientistas brasileiros e o pai do programa nuclear do país, o almirante Othon reafirmou sua inocência e disse que o que fez na área nuclear "desagradou" os interesses internacionais.
"Como começou tudo isso? Num depoimento que o presidente de uma empreiteira fazia sobre um contrato com a Petrobras. Ele mencionou que ouviu dizer algo sobre o presidente da Eletronuclear estar de acordo com um cartel. Isso serviu de pretexto para os camaradas vasculharem a minha vida desde garoto. Havia um direcionamento", enfatizou o almirante.
Othon afirma categoricamente que há uma "influência forte, ideológica" estrangeira que levaram a sua condenação. "Não posso provar mas tenho um sentimento muito forte. Houve interesse internacional", afirmou.
Sobre as acusações de recebimento de propina, o almirante rebateu afirmando que o Ministério Público desconsiderou as provas apresentadas. "É um desconhecimento total ou uma vontade de não querer reconhecer [a importância do trabalho]. São anos de pensamento sobre o Brasil", disse ele se referindo aos pagamento recebidos da empreiteira Andrade Gutierrez por serviços de consultoria.
Ele contou que sua empresa de consultoria foi procurada pela empreiteira por conta das obras de Angra 3. Othon preparou um estudo sobre o assunto, que foi considerado pelo MP como simplório e fictício.
"O que ocorreu no país, e sobre o que falava no meu estudo? O consumo de energia cresceu e o estoque de água das hidrelétricas estacionou na década de 80. Antes disso, o Brasil poderia passar por vários anos "secos" porque tinha estoque de água. Mas isso mudou e veio o apagão. O Brasil agora precisa de energia térmica de base. Termelétricas têm que ser [movidas a] carvão ou [energia] nuclear. E nuclear é melhor para nós porque temos reservas [de urânio] correspondentes a 50% do pré-sal", apontou o almirante.
E acrescentou: "Se eu tiver a energia nuclear, eu economizo água e não chego nessa situação [de apagão]. A energia nuclear não compete com a hidrelétrica. Ela complementa. Era isso o que o estudo mostrava."
El reafirma que seu trabalho de consultoria foi feito e tinha o direito de receber. "Não era propina, não foi mesmo. Eu achava que tinha direito de receber. Agora, tive o cuidado de não tomar nenhuma decisão [que beneficiasse a empreiteira], não tem nenhum ato de ofício assinado por mim", destacou o almirante se referindo a sua atuação como presidente da Eletronuclear.
Ele diz ainda que a Andrade Gutierrez ficou ressentida com ele porque exigiu que o Tribunal de Constas da União aprovasse os detalhes do aditivo para o pagamento do serviço nas obras de Angra 3.
"Eles ficaram irritadíssimos. Fui uma decepção para eles. Houve outras divergências, chegaram a parar as obras. Oras, se eu tivesse ligação com eles, isso teria ocorrido?", indagou.
"A Andrade já tinha um ressentimento em relação a mim. E delação premiada é um processo muito danado. O cara acha que agrada [os investigadores] e senta a pua. Ele não tem compromisso", repele.