Os dilemas dos jovens trabalhadores sob o governo Temer
Cerca de 400 jovens sindicalistas da América Latina se reuniram em Buenos Aires, de 28 a 30 de setembro passado, para o 4º Encontro da Juventude Trabalhadora da Federação Sindical Mundial (FSM) – Cone Sul. Na ocasião, fui à capital argentina para representar a FITMETAL (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e o Sindicato dos Metalúrgicos, Mecânicos e Eletricistas de Chapecó e Região.
Por Fabiana Souza*
Publicado 18/10/2017 18:13
Com o tema “O papel dos jovens trabalhadores no contexto da crise mundial”, o Encontro ocorreu num momento em que, sob o governo ilegítimo de Michel Temer, a juventude brasileira vive um paradoxo dramático. O País nunca dispôs de uma mão de obra juvenil tão qualificada – e tão desiludida.
A crise política e econômica do Brasil, acentuada com o golpe contra a presidenta Dilma em 2016, retira empregos, oportunidades e direitos, em especial da juventude. Há uma reversão de expectativas e projetos – uma traição ao próprio futuro desses brasileiros.
Da universidade para onde?
Graças ao o ciclo progressista aberto pelo governo Lula (2003-2010), iniciativas como a democratização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e a criação do ProUni (Programa Universidade para Todos) garantiram uma maciça inclusão de jovens no ensino superior. De acordo com o MEC (Ministério da Educação), as matrículas em cursos de graduação mais do que dobraram entre 2002 e 2014, passando de 3,5 milhões para 7,1 milhões. No mesmo período, o País ganhou 18 universidades públicas, além de 173 novos campi.
Desde o golpe, porém, os ataques à juventude e a seu futuro não param. Os retrocessos corroeram inicialmente a educação pública, com medidas como a reforma conservadora do ensino médio e a Proposta de Emenda Constitucional 55 (PEC 55) – que limita por 20 anos os gastos do governo em áreas sociais.
Em seguida, a ofensiva atingiu a economia e o emprego. Em setembro, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou um mapeamento das mudanças recentes no mercado de trabalho. Sua conclusão: “A crise econômica enfrentada pelo País vem atingindo com maior intensidade os mais jovens, que têm, simultaneamente, mais dificuldade de conseguir emprego e mais chance de ser mandado embora”.
Diante da crise de projetos e de rumos, é fundamental construir bandeiras de luta capazes de unir os movimentos e os jovens brasileiros, bem como a juventude latino-americana e caribenha
Sobressaem alguns dados sobre trabalhadores com idade entre 18 e 24 anos. De cada quatro desempregados nessa faixa etária, apenas um conseguiu nova ocupação no segundo trimestre de 2017. O índice de jovens que foram dispensados e migraram para o desemprego – que era de 5,2% em 2012 – agora está em 7,2%. Além disso, os jovens ocupados tiveram uma queda de 0,5% de salário na variação interanual, enquanto trabalhadores com mais de 60 anos, por exemplo, tiveram 14% de ganhos salarias.
Luta mais árdua
As estatísticas confirmam uma tendência detectada pelo Pnad no primeiro trimestre. Dos 13,5 milhões de desempregados no Brasil naquele período, 65% tinham menos de 40 anos. Enquanto a taxa geral de desemprego chegou a 13,6%, os índices para a juventude ficaram ainda piores. Havia 28,8% de desempregados (4,5 milhões de trabalhadores) na faixa dos 18 a 24 anos. Já na população economicamente ativa de 14 a 17 anos, 45,2% (1,3 milhão de pessoas) estavam fora do mercado do trabalho.
Outra marca da gestão Temer é o desmonte da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), construída em 1943 (na Era Vargas) e aperfeiçoada ao longo do tempo. Em 2017, da “Lei da Terceirização Irrestrita” à reforma trabalhista, o governo retirou ou flexibilizou mais de 200 direitos. A luta dos jovens por empregos formais e decentes se tornou ainda mais árdua.
Diante da crise de projetos e de rumos, é fundamental construir bandeiras de luta capazes de unir os movimentos e os jovens brasileiros, bem como a juventude latino-americana e caribenha. Os ataques do imperialismo e do capital financeiro avançam não apenas no Brasil – mas no conjunto do continente, conforme demonstrado pelos depoimentos de diversas lideranças no Encontro da Juventude da FSM – Cone Sul.
Por tudo isso, o Encontro acerta ao propor uma plataforma unificada de ação para a região, com foco na defesa dos direitos sociais e trabalhistas. Fica cada vez mais claro que, para enfrentar tamanhos retrocessos, o movimento sindical pode – e deve – unir esforços, inclusive com o movimento estudantil, a fim de firmar mais parcerias por uma causa comum: os jovens trabalhadores.
*Fabiana Souza é Secretária de Juventude da FITMETAL (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e tesoureira do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e do Material Elétrico (Stimmme) de Chapecó e Região (SC).