Empresa quer lucro às custas da insegurança do trabalhador
Pesquisa encomendada pelo jornal Valor Econômica mostra que se mantém negativa a proporção entre a remuneração de admitidos e demitidos que era de 93% em janeiro deste ano e registrou em agosto 87%. Significa que trabalhadores admitidos na crise ganham 87% do salário daqueles que antes ocupavam o posto executando o mesmo trabalho.
Por Railídia Carvalho
Publicado 17/10/2017 14:03
Em entrevista ao Portal Vermelho, o metalúrgico Marcelo Toledo, diretor da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal) alertou que esse dado significa precariedade e insegurança para o trabalhador.
De acordo com o sindicalista, as grandes corporações multinacionais se aproveitam da crise para fazer a reestruturação produtiva. “Na prática significa demitir quem tem salário mais alto e contratar trabalhadores para fazer o mesmo serviço com salários mais baixos. Assim o empregador mantém a sua margem de lucro. É o movimento do capital”.
De 2013 até agosto deste ano foram 530 mil vagas extintas no setor metalúrgico. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) naquele ano havia 2 milhões e 446 mil metalúrgicos trabalhando enquanto que em agosto deste ano estão registrados 1 milhão e 911 mil na ativa.
Trabalhador metalúrgico é alvo
Marcelo lembrou que se considerada a indústria da transformação, que inclui químicos, construção civil, indústria da madeira, as estatísticas podem bater um milhão de vagas extintas. Segundo ele, a reestruturação atinge vários setores mas na área metalúrgica as recolocações promovem um patamar elevado de exploração.
“Esse setor sendo um dos mais afetados no processo de crise necessariamente afeta a relação capital trabalho. A burguesia industrial procura equilibrar a balança comercial deles e atinge diretamente os trabalhadores da área industrial”, completou.
Reforma trabalhista vai agravar defasagem salarial
O dirigente afirmou que o cenário pode piorar com a vigência da reforma trabalhista e a lei de terceirização. “A troca de força de trabalho em função da terceirização e da reforma trabalhista pode levar a 30% a defasagem salarial em média e tornar essa prática conduta padrão”. A reforma trabalhista entra em vigor no dia 11 de novembro.
“O cara tá desempregado, vivemos um processo de crise sem perspectiva, ele pega a primeira vaga que aparecer”, concluiu Marcelo. O que poderia trazer boas perspectivas, porém, podem colocar esse trabalhador em uma situação de precariedade e exploração".
Aumento da insegurança
Marcelo tomou como exemplo um trabalhador de uma grande empresa que é mecânico de manutenção , qualificado e tem salários entre R$ 5 mil e 7 mil reais. Este empregado será demitido para ser contratado em seu lugar um trabalhador também qualificado, para fazer o mesmo trabalho mas que vai ganhar entre R$ 3.500 e 4 mil reais.
Com a terceirização formalizada tanto em lei própria quanto na nova lei trabalhista, as empresas também podem contratar trabalhadores terceirizados. “Esse trabalhador admitido pode encontrar diversas situações além da remuneração 30% menor. Ele pode acumular trabalho por uma possível diminuição de trabalhadores, pode ter um equipamento inferior ao dos trabalhadores diretos”, exemplificou Marcelo.
Ele lembrou que a empresa onde o trabalhador atua deixa de ter responsabilidade sobre esse empregador terceirizado. Pela reforma trabalhista, a empresa terceirizada é responsável por esse trabalhador.
“Essa grande empresa pode ou não fornecer o equipamento para o trabalhador, pode ou não obrigar a terceirizada a fornecer o Equipamento de Segurança Individual (ESI) ou o Equipamento de Segurança Coletiva (ESC). A terceirizada se fornecer pode optar por um equipamento sem qualidade”, enumerou Marcelo.
Risco de vida e custo social
Explosão na Gerdau
No dia 10 de setembro o metalúrgico Levindo Costa de Carvalho Neto faleceu em Belo Horizonte. Ele foi a quarta vítima da explosão ocorrida no dia 15 de agosto na Usina Ouro Branco da Gerdau (MG), que mantém um grande número de terceirizados entre os trabalhadores, citou matéria do Portal Fitmetal. Ainda de acordo com a reportagem, a Gerdau mantém setores com três trabalhadores onde antes trabalhavam 11.
“A exploração a que esse metalúrgico é submetido, as condições precárias tudo isso impacta na condição física do trabalhador, na subjetividade do trabalho. O trabalhador e a sociedade só têm a perder. Com salário menor ele consome menos mercadoria, isso impacta na cadeia produtiva e impacta no processo como um todo e num determinado período gera mais desemprego. Essa é a contradição do capital”, argumentou Marcelo.
O dirigente também enfatizou a pressão psicológica a que esse trabalhador – que ficou de seis meses a um ano desempregado – é submetido dentro da fábrica. “O capital disputa as ideias com o sindicato. Dentro da fábrica quem manda, quem tem o poder da persuasão são os patrões e mesmo os sindicatos que historicamente são fortes tem encontrado dificuldades”, avaliou Marcelo.
Marcelo reiterou que o caminho do movimento sindical para se contrapor à retirada de direitos é a unidade política. “O Brasil Metalúrgico tem sido positivo nesse sentido de reunir todas forças e concepções do movimento sindical contra a reforma trabalhista”.
Brasil Metalúrgico contra retirada de direitos
O movimento Brasil Metalúrgico unificou federações, sindicatos e confederações de metalúrgicos do país com o apoio da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), CSP-Conlutas, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Intersindical, União Geral de Trabalhadores, Central dos Sindicatos Brasileiros e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).
No dia 10 de novembro, o Brasil Metalúrgico realizará atos por todo o país contra a reforma trabalhista. A iniciativa reuniu milhares de metalúrgicos no dia 29 de setembro em plenária nacional em São Paulo e também realizou protestos em 14 de setembro.
Marcelo admite que não está sendo fácil fazer a disputa com os empregadores. “Ainda prevalece a visão da meritocracia, se alimenta a disputa entre os trabalhadores. O movimento sindical no nosso campo tem que fazer a disputa das ideias. Mostrar que a solução do trabalho dele não é individual, é coletiva. Mobilização ampla para ganhar a consciência da classe trabalhadora para enfrentar esse desmonte das leis históricas conquistadas com muita luta”.
Plenária nacional unificada