Ataque na Somália é o mais letal em uma década
Um massivo ataque com bombas em uma área movimentada da capital da Somália, Mogadíscio, matou pelo menos 276 pessoas, segundo autoridades locais. A explosão aconteceu no sábado (14); a autoria do atentado não foi reivindicada, mas especialistas suspeitam do grupo terrorista Al Shabab
Publicado 16/10/2017 15:34
Subiu para 276 o número de mortos no pior atentado terrorista da história da Somália, ocorrido no último sábado, de acordo com a agência AFP. Outras 350 pessoas ficaram feridas no ataque. Dois veículos-bomba explodiram com pouco tempo de diferença no centro da capital, Mogadíscio, deixando dezenas de cadáveres carbonizados, edifícios destruídos e hospitais lotados de feridos. Apesar de ainda não ter sido reivindicada, os especialistas e a imprensa local afirmam que a autoria é da Al Shabab, a milícia jihadista que assola a região com constantes ataques.
O atentado ocorreu na tarde de sábado, dia 14 de outubro. A primeira e mais sangrenta explosão, causada por um caminhão-bomba, ocorreu às 15h do horário local (9h de Brasília) na área conhecida como PK5, próxima ao hotel Safari, em uma das ruas mais movimentadas da cidade, com muitos comércios e restaurantes, em uma hora em que numerosos vendedores de rua ocupavam as calçadas, informa a EFE. Testemunhas relataram que as vibrações da explosão foram sentidas em toda a cidade. Uma coluna de fumaça negra de três quilômetros de altura se formou. A segunda detonação, de menor intensidade, ocorreu instantes depois, próximo a um mercado no distrito de Wadajir.
A maioria dos falecidos, cujo número pode aumentar nas próximas horas, é de civis. O porta-voz do Senado somali, Abshir Mohamed Ahmed, declarou à emissora internacional Voice of America que as forças de segurança ainda não divulgaram um número oficial à espera de uma contagem mais detalhada. A paisagem após o ataque era dantesca. “É muito difícil se obter um número preciso porque os cadáveres foram levados a diferentes hospitais e alguns foram retirados diretamente por seus parentes para serem enterrados”, disse um porta-voz policial à agência France Presse (AFP).
Muitos morreram calcinados dentro de seus veículos particulares e ônibus quando atravessavam a área. Outros foram esmagados pela queda de numerosos edifícios, entre eles o próprio hotel, pela intensidade da explosão. Os serviços médicos estão tendo problemas para identificar os cadáveres uma vez que estão queimados e desmembrados. A Federação Internacional da Cruz Vermelha e a Meia-Lua Vermelha confirmaram que pelo menos cinco voluntários da Meia-Lua Vermelha somali estão entre os mortos.
Os hospitais da cidade ficaram lotados para atender os feridos, de modo que o presidente somali, Mohamed Abdullahi Mohamed, conhecido como Farmaajo, fez um pedido de doações urgentes de sangue e declarou três dias de luto oficial com as bandeiras a meio-mastro. “O horrível ataque de hoje [sábado] mostra que nada deterá nosso inimigo no momento de provocar dor e sofrimento ao nosso povo. Vamos nos manter unidos contra o terror”, disse através de sua conta no Twitter, acrescentando um lacônico “Não vencerão”. Em um discurso pela televisão afirmou que o ataque foi dirigido contra “civis inocentes” e não contra membros do Governo, uma demonstração de sua “falta de piedade”.
Neste domingo, centenas de habitantes de Mogadíscio foram às ruas da cidade em uma marcha convocada contra a violência terrorista e para expressarem sua raiva pelo atentado de sábado. Muitos manifestantes, que entoaram lemas contra a violência, estavam com tranças vermelhas e brancas no cabelo em sinal de luto pelos falecidos, informa a AFP.
As reações internacionais de condenação não demoraram. Um dos primeiros foi o Governo do Catar, cuja embaixada ficou praticamente destroçada pela explosão. O Executivo turco, que fornece apoio militar à Somália, também enviou com rapidez um avião militar médico para atender os numerosos feridos.
Nas horas seguintes, a União Europeia pediu ao Governo somali que mantenha a unidade para derrotar o terrorismo, os Estados Unidos chamaram o atentado de “ataques covardes” que reforçam a vontade estadunidense de apoiar a Somália em sua luta contra os radicais e até o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, expressou sua “enérgica condenação” ao atentado pelo Twitter. Tanto a França como a Grã-Bretanha e a União Africana manifestaram seu apoio ao país africano.
A Al Shabab é um grupo terrorista islâmico radical cuja fundação ocorreu há uma década e que em 2012 manifestou sua adesão ao círculo da Al Qaeda. Atualmente e após sua expulsão dos principais centros urbanos e especialmente da capital, controla áreas rurais da Somália e estima-se que pode ter 7.000 combatentes. Suas ações mais ruidosas são atentados terroristas com carros-bomba como o de sábado e ataques a edifícios, que provocaram milhares de mortos nos últimos sete anos.
Mas não é só a Somália que está no radar da violência. Em 2013, a Al Shabab foi responsável pelo ataque ao centro comercial Westgate de Nairóbi, na vizinha Quênia, que acabou com 72 mortos e 200 feridos, e em 2 de abril de 2015 realizou um massacre na Universidade queniana de Garissa, provocando 143 mortos entre os estudantes.
Fugir da violência
A presença da Al Shabab aumentou a instabilidade na Somália. Em fevereiro, Farmaajo foi eleito presidente do país e se deu um prazo de dois anos para acabar com o grupo terrorista. Enquanto isso, sua população é grande protagonista do êxodo migratório à Europa dos últimos anos pela violência e pobreza. A Somália é um dos países que sofre o veto migratório dos EUA estabelecido por Donald Trump.