Movimento Médicos Pela Democracia: A mulher merece cuidado
“Nós, Médicos pela Democracia, defendemos que toda pessoa vítima de violência sexual tenha o direito à assistência integral de saúde”.
Publicado 06/10/2017 09:53 | Editado 04/03/2020 16:23
A presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Mayra Pinheiro, conclama a sociedade cearense a protestar contra a Câmara de Vereadores de Fortaleza que propõe em Lei a “obrigatoriedade de atendimento integral de pessoas em situação de violência sexual”. A Dra. Mayra defende que, se uma mulher sofrer violência sexual, inclusive se for estuprada, os serviços de saúde não devem prestar-lhe assistência integral e, principalmente, não devem realizar a “profilaxia da gravidez”, pois isto significa liberar o aborto. Esta posição da Dra. Mayra expressa uma hipocrisia e uma desumanidade em relação à mulher vítima de violência sexual.
Hipocrisia porque ela, como médica, tem conhecimento de todas as precauções que uma pessoa vítima de violência sexual tem que tomar para proteger-se contra a Aids, a sífilis, a hepatite B e outras possíveis doenças infecciosas às quais pode ser exposta em razão da mencionada violência sexual, como preveem os protocolos médicos nestes casos. E sabe, sim, que a profilaxia da gravidez, através da pílula anticoncepcional de emergência, atrasa ou impede a liberação do óvulo pelo ovário e, caso o óvulo já tenha sido liberado, previne a fertilização ao modificar o muco cervical, deixando-o mais espesso e hostil – assim, os espermatozóides têm a mobilidade afetada e não conseguem chegar a tempo às trompas uterinas.
Sabe, também, que se uma mulher, vítima de violência sexual, tomar a pílula nas primeiras 24 horas, terá 95% de chances de não engravidar.
Sabe, ainda, que consta no Guia Oficial da Organização Mundial da Saúde que “as pílulas contraceptivas de emergência de levonorgestrel (princípio ativo) não são eficazes depois que o processo de implantação no útero teve início, não causando o aborto”.
Desumanidade porque, como médica e presidente do Sindicato dos Médicos e, portanto, uma formadora de opinião, passa uma informação falsa para as mulheres vítimas de violência sexual, induzindo-as ao sofrimento de suportar, após o trauma da violência sexual, outra violência de carregar em seu ventre o fruto de um estupro, quando poderia evitar que isto acontecesse. Isto contraria um dos princípios da ética que é a não-maleficência, ou seja, não causar ou favorecer o sofrimento desnecessário na pessoa humana.
As mulheres vítimas de violência sexual precisam e têm o direito de serem cuidadas, Dra. Mayra, e não de ser enganadas e sofrer mais violência do não-cuidado.
Nós, Médicos pela Democracia, defendemos que toda pessoa vítima de violência sexual tenha o direito à assistência integral de saúde, bem como de receber toda a medicação para a prevenção de doenças infecciosas de transmissão sexual, de fazer a profilaxia da gravidez e, no caso de engravidar em decorrência da violência, de ter acesso ao aborto legal seguro.
Médicos pela Democracia