Representante russo critica ameaça de intervencionismo ocidental
“Moscou sempre buscou deixar no passado a herança da Guerra Fria, mas não recebeu apoio dos seus parceiros ocidentais. A OTAN quer reviver o clima da Guerra Fria”, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em discurso na 72 sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, na quarta-feira (20)
Publicado 21/09/2017 18:45
"Soberania, não intervenção em assuntos internos, igualdade entre os povos, respeito mútuo — a Rússia sempre se pautou nesses princípios em sua política internacional e continuará em sua defesa. Durante o último quarto de século, o nosso país, apesar das provações, trilhou com honestidade a sua parte do caminho para liquidar a herança da Guerra Fria e fez muito para fortalecer a confiança e o entendimento mútuo no espaço euroatlântico, e no mundo como um todo. Isso, no entanto, não foi correspondido por parte dos nossos parceiros ocidentais, enfeitiçados pela ilusão da chegada do fim da história e que até hoje tentam adaptar à realidade atual as instituições da época de confronto entre os blocos", declarou Lavrov.
Segundo o ministro russo, a "OTAN tenta recriar o clima da Guerra Fria e recusa a colocar em prática o princípio de segurança igualitária e indivisível no espaço da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, red.), anunciado com pompa na década de 90".
"O Ocidente construiu a sua política sob o princípio de — quem não está conosco, está contra a gente — e iniciou o caminho da expansão incontrolável da OTAN para o leste, provocando instabilidade no espaço pós-soviético e estimulando humores antirrussos", concluiu o chefe da diplomacia russa.
Crítica às ameaças e intervenções dos EUA
O chanceler russo condenou as "aventuras nucleares e de mísseis de Pyongyang", mas ressaltou o risco de "histeria militar". Lavrov citou que as resoluções aprovadas no Conselho de Segurança da ONU, além de sanções, incluem medidas para avançar em uma solução diplomática para o conflito com a Coreia Popular.
"Pedimos que deixem de bloquear essas medidas. Não há alternativa senão as vias política e diplomática para resolver a questão nuclear", indicou Lavrov.
O chefe da diplomacia da Rússia pediu apoio para a proposta conjunta apresentada pelo país e pela China em julho, na qual estabelece que a Coreia Popular suspenda seus testes se Estados Unidos e Coreia do Sul façam o mesmo com as manobras militares na região, em uma tentativa para criar condições para o diálogo.
"A Rússia está extremamente preocupada com os comentários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, questionando o acordo nuclear com o Irã e suspeita que Washington esteja violando um tratado de controle de armas", disse o ministro russo.
"É especialmente alarmante que os Estados Unidos, através das palavras do presidente Trump, confirmem sua posição irreconciliável e critiquem fortemente o Plano Conjunto de Ação, que permitiu resolver o problema nuclear iraniano", disse Lavrov a repórteres, e completou: “defenderemos este documento, esse consenso, que foi aceito com o alívio de toda a comunidade internacional e realmente fortaleceu a estabilidade regional".
A ameaça de Trump, feita na mesma ocasião, de "destruir completamente" a Coreia do Norte se os EUA tiverem que se defender, ou a seus aliados, também desagradou a Rússia, que compartilha uma fronteira com a Coreia Popular e acredita que negociações e diplomacia são a única maneira de resolver a crise provocada pelo programa de mísseis de Pyongyang.
Ele guardou suas críticas mais duras, porém, ao que afirmou ser uma possível violação norte-americana de um tratado de controle de armas de 1987 que proíbe EUA e Rússia de terem mísseis de alcance intermediário em solo.
"Temos suspeitas de que, em ao menos três frentes, os norte-americanos estão criando sistemas de armas que violam ou poderiam violar as obrigações do tratado", disse.
Em defesa da Venezuela
O chanceler russo criticou a aplicação ilegítima de “sanções unilaterais” por determinados países do ocidente, referindo-se às restrições impostas pelos EUA contra o Irã, Cuba e a Venezuela.
Lavrov considera “inadmissível instigar distúrbios e lançar ameaças de uma intervenção militar com a finalidade de ‘democratizar’ a Venezuela, assim como todas as ações que visam derrubar as autoridades legítimas de qualquer país”.
Afirmou que em qualquer conflito interno, a comunidade internacional deve procurar promover a reconciliação e o compromisso.