Sob cobiça de bancos e empresas, Temer indica superintendente do Cade
Michel Temer encaminhou ao Senado a indicação de Alexandre Cordeiro Macedo para a Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade. A indicação, publicada no Diário Oficial da União de sexta-feira (8), será apreciada pelos senadores.
Publicado 11/09/2017 12:57
De acordo com o fontes do Planalto, Macedo é apadrinhando pelo PP que, por sua vez, confirma a indicação, mas afirma que sua nomeação é técnica, já que ele está no órgão há apenas dois anos.
As cadeiras do Cade são disputadíssimas. Responsável por julgar e punir administrativamente pessoas físicas e jurídicas que pratiquem infrações à ordem econômica, o órgão atrai interesses de todos os lados. Num governo de balcão, se transforma em moeda de troca.
A cobiça é porque quem ocupa a cadeira tem a possibilidade de interferir em decisões empresariais. Na denúncia contra Temer por corrupção passiva, o ato principal que deu origem à denúncia é a mala com R$ 500 mil supostamente destinada a Temer.
O ex-deputado e assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures teria recebido a mala com o dinheiro para atender a um contrato de R$ 406,6 milhões assinado entre uma termelétrica do grupo JBS e a Petrobras para fornecimento de gás boliviano, depois de suposta interferência do Cade.
Além disso, o Cade também supervisiona os acordos de leniência firmados por empresas envolvidas em atos de corrupção. A Odebrecht, por exemplo, aguarda a assinatura de um Termo de Compromisso de Cessação com o órgão para não ser multada e proibida de ser contratada pelo governo por cinco anos.
Além das empresas, o setor financeiro também tem interesses no Cade. O órgão investiga uma suposta manipulação das taxas de câmbio por um grupo de bancos.
De acordo com especialistas, o cartel provocou um rombo maior do que o causado pelos crimes de corrupção investigados pela Operação Lava Jato. Apesar disso, pouco se fala sobre as investigações que foram iniciadas em dezembro do ano passado.
O Cade investiga a possível formação de cartel por bancos que combinavam estratégias para fixar preços (spreads) na negociação de uma série de moedas, incluindo o real. Entre os bancos investigados estão BTG Pactual, Citibank, HSBC, BBM e BNP Paribas. Também há indícios da participação, em menor grau, do Itaú, Santander, ABN AMRO Real, Fibra e Societé Générale.
Ligações
Ainda sobre a indicação de Temer, Macedo seria ligado ao senador Ciro Nogueira (PI), que é presidente do PP. O parlamentar é citado por Joesley Batista em uma gravação na qual o executivo da JBS o critica por ter “prometido facilidades” para que ele usasse a Funcef, um dos maiores fundos de pensão do país, em seus negócios. Além disso, Ciro teria falado em “nomear gente do Cade, presidente da Vale” num momento considerado inadequado por Joesley.