Após o golpe, “PSDB morreu, não é mais um partido”, diz Giannotti
Às vésperas da eleição, a disputa no ninho tucano está cada vez mais acirrada. A sigla responsável pelo golpe contra a democracia, que afastou a presidenta eleita Dilma Rousseff e deu sustentação ao governo de Michel Temer, “está morta”. É o que afirma o filósofo José Arthur Giannotti, um dos gurus tucanos em entrevista à Folha de S. Paulo.
Por Dayane Santos
Publicado 04/09/2017 11:20
“O PSDB morreu. Quer que eu fale de defuntos? O PSDB não é mais um partido. Funcionava como um partido quando as decisões eram tomadas em bons restaurantes e todos estavam de acordo. Agora isso não há mais. E não existe alguém como Lula para aglutinar todos”, diz ele, afirmando que o partido não tem vida orgânica, ou seja, sem militância. Apenas uma cúpula que decidia os rumos da legenda e agora nem isso.
Giannotti é filósofo e professor emérito da Universidade de São Paulo e uma referência para políticos do PSDB desde a fundação da sigla. Muito próximo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele tem afirmando que a legenda tucana acabou desde o golpe no ano passado.
Na ânsia pelo poder, os tucanos se alçaram como paladinos do combate à corrupção, dando margem à judicialização da política. Pavimentaram o caminho do discurso da antipolítica e, agora, estão num mato sem cachorro.
Na análise de Giannotti, a crise atual é mais grave do que a de 1964. Ele admite que o ex-presidente Lula tem chances de voltar ao poder.
“O Lula é um gênio político, é absolutamente extraordinário. Até que ponto ele foi tomado pela corrupção a Justiça vai dizer. As pesquisas mostram que o Lula tem chance, mas, se entrar, vai haver muito protesto”, afirma.
Na entrevista, Giannotti reforça o discurso ultradireitista de que o país precisa de uma intervenção militar ao dizer que a crise “é pior que a de 1964”, mas ressalva que nesse período pelos menos os militares “botaram ordem”.
“Lá tinha a merda dos militares. Eles mataram gente etc., mas botaram ordem. Agora nem isso nós temos. Não quero a volta dos milicos não [enfático]. Mas hoje não temos processos de resolução da crise. Isso é um problema muito sério. Quem diz ter a solução para a crise? Ninguém.”
Ele também critica o discurso de “gestão” na política, adotado pelo tucano prefeito de São Paulo, João Doria. De acordo com o filósofo, Doria não pode nem ser considerado gestor. “Ele é um bom comunicador, que se veste de gari e assim por diante. Até agora não vi ele provar ser um grande gestor.”
Doria tira o sono de Alckmin
Doria, por sua vez, não se vê assim. Pelo contrário, o tucano tem colocado suas asas de fora e deixado muitos tucanos incomodados. Em entrevista ao Estadão, Doria não descartou a possibilidade de deixar o PSDB para se candidatar.
O “talvez” de Doria representa um tapa na cara do seu padrinho político Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, que bancou a candidatura dele custando, inclusive, a divisão interna. Com as denúncias contra o senador Aécio Neves (MG), afastado da presidência da legenda, e o recuo do também senador José Serra (SP), Alckmin vislumbrava ser a única opção da legenda para as eleições de 2018.
Mas Doria tem se empolgado com as pesquisas de intenção de voto, que o coloca com uma rejeição pouco menor do que a de Alckmin. Pesquisa do Infomoney aponta o tucano como “melhor candidato para as eleições de 2018 que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin”.
Na entrevista, ao ser questionado se as pesquisas terão um papel importante na escolha do candidato do PSDB, ele afirmou: “Ao meu ver, sim. Se alguém tiver dúvida em uma pesquisa, que faça duas. Se tiver dúvida em duas, que faça três. Não ouvir o povo pode ser um erro fatal para o PSDB”.
Doria disse que não tem a intenção de mudar de partido, “mas é sempre bom ouvir de outros partidos que você é bem-vindo”. “Não é só o PMDB e o DEM. Outros dois partidos tiveram a gentileza e a delicadeza de abrir as portas caso necessário”, afirmou ele, demonstrando que não sabe nada de política mesmo.