Presidente reeleito da CTB pede unidade do movimento e mais diálogo
O 4º Congresso Nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) terminou neste sábado (26/8), em Salvador (BA), com a eleição da diretoria que vai liderar a entidade no próximo quadriênio (2017/2021). À frente da gestão estará o bancário Adilson Gonçalves de Araújo, reeleito presidente pelos 1.200 delegados presentes.
Por André Cintra
Publicado 27/08/2017 16:11
Nesta entrevista ao Portal da Fitmetal, concedida logo após o fim do congresso, Adilson enfatizou dois desafios para a nova direção: fortalecer a unidade do movimento sindical e dialogar mais com a base. “Este novo tempo vai exigir um sindicalismo mais determinado, mais focado do diálogo e na organização no local de trabalho, mais próximo do chão da fábrica”, declarou o dirigente.
Ao ressaltar outro desafio da CTB – a defesa da indústria nacional –, Adilson destacou a parceria com a Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e elogiou a campanha “Brasil Metalúrgico”. Pela primeira vez desde 1999 (governo FHC), entidades metalúrgicas de todo o país, ligadas às mais diversas centrais e tendências sindicais, se uniram para enfrentar a crise e a reforma trabalhista. Na opinião do presidente da CTB, “os metalúrgicos e os trabalhadores da indústria serão os alicerces dessa grande batalha”.
Confira abaixo a entrevista:
Portal da Fitmetal: Sua primeira eleição à Presidência da CTB ocorreu em 2013, quando Dilma Rousseff ainda estava na Presidência da República e essa reforma trabalhista draconiana nem sequer estava em cogitação. O que muda na atuação da central ante esse novo cenário?
Adilson Araújo: Diz o ditado popular que a crise pode gerar uma oportunidade. Estou confiante de que o movimento sindical, com muita autoridade moral e política, vá fazer a lição de casa. Este novo tempo vai exigir um sindicalismo mais determinado, mais focado do diálogo e na organização no local de trabalho, mais próximo do chão da fábrica. É preciso estreitar mais a relação entre a direção e a base.
A ruptura democrática sinalizou pelo encaminhamento de uma agenda ultraliberal. Aprova-se a PEC 55, que congela os investimentos públicos por 20 anos. Materializa-se a tão reivindicada terceirização irrestrita e generalizada. Aprova-se uma reforma trabalhista regressiva. Ensaia-se o projeto que vai levar ao desmonte da Previdência e pôr fim ao sonho de uma aposentadoria digna.
De alguma forma, o movimento sindical tem de fortalecer a sua unidade e construir mecanismos que potencializem ações mais conjuntas. Não há possibilidade nenhuma de enfrentar essa agenda neoliberal se a gente particularizar as lutas. O ensaio do tempo vai demonstrando que o melhor caminho é combinar o jogo.
Quais as orientações mais imediatas?
Será preciso ter muita responsabilidade nas campanhas salariais. As centrais sindicais, de forma unitária, já convocam uma plenária no final do mês, para estabelecer esse diálogo e pensar em ações conjuntas, sobretudo junto às categorias importantes. São essas ações unitárias que podem redundar em um contrato coletivo nacional.
O movimento sindical sabe do momento conturbado que vive, e o 4º Congresso da CTB é uma demonstração de que é possível, sim, dialogar mais e melhor com a classe trabalhadora. Fundamentamos aqui um plano de lutas que vai dar consequência à nossa causa. Se não unirmos o movimento sindical, não seremos capazes de enfrentar essa ofensiva conservadora.
Qual é o patamar alcançado pela CTB hoje?
A CTB celebra dez anos num momento singular. Mesmo com o advento da crise, crescemos e cumprimos uma missão importante. Temos 1.200 sindicatos filiados, sendo 800 devidamente regularizados junto ao Ministério do Trabalho. Em torno da central, gravita a unidade entre trabalhadores do campo e da cidade. Categorias fundamentais e estratégicas se uniram nessa construção coletiva. Segundo nossas estimativas, a CTB representa mais de 10 milhões de trabalhadores.
Há um reconhecimento inconteste da ação CTB – seja a ação institucional, seja a ação social. Num curto espaço de tempo, a CTB se tornou uma referência e carimbou a máxima de ser “a central que mais cresce no país”. É algo a ser comemorado – e é a resultante de uma decisão correta que tomamos em 2007: a de criar uma central democrática, classista, internacionalista e de luta. Onde houve luta, lá estava a bandeira da CTB. O projeto é exitoso. Valeu a pena ter apostado nele.
Neste período de adversidades – em que é preciso, ainda mais, ganhar opiniões –, áreas como a formação e a comunicação ganham mais força?
Não tenho dúvidas. Na gestão que se encerra, chegamos a pensar num projeto para mais dez anos, embora o Congresso não tenha incorporado. Diante das turbulências e da instabilidade política, a CTB deve se voltar para o terreno da formação e da comunicação. Já temos o desejo de dar consequência ao nosso projeto da Escola Nacional e trabalhar na perspectiva de um “EAD sindical” – um curso de formação sindical à distância.
Pensamos também em constituir uma rede nacional de comunicação. A imprensa sindical tem um patrimônio importante e, muitas vezes, desprestigiado. Se explorarmos as potencialidades existentes nos sindicatos e conseguirmos corresponder ao conjunto dos trabalhadores, essa rede de comunicação será um importante serviço. É um grande desafio da nova gestão.
CTB lançou, em parceria com a Fitmetal, um manifesto em defesa da indústria nacional, da retomada do crescimento e da geração de empregos. Qual será o papel dos metalúrgicos e dos trabalhadores da indústria nesta nova fase?
Vivemos um processo dramático, em que o Brasil está refém da desindustrialização. A motivação do governo, ao que nos parece, é abrir as porteiras para as empresas de capital estrangeiro – que, uma vez instaladas aqui, não vão gerar riquezas para o nosso povo. O interesse das multinacionais e do rentismo é extrair o máximo do lucro e depositá-lo lá fora. Com isso, o Brasil perde conteúdo local, engenharia nacional e empreendimentos estratégicos para o futuro.
A CTB, a Fitmetal e os sindicatos do setor metal-mecânico estão apostando numa campanha nacional. Uma nação deve se empoderar, promover investimentos, fortalecer sua indústria e torná-la competitiva, garantir que o país cresça e se desenvolva. Por isso, aprovamos, em consenso, a ideia de um manifesto. Fizemos uma nota técnica sobre a indústria, tecendo opiniões, apresentando os dilemas, mostrando as contradições. Já provocamos um diálogo com o setor produtivo e com as centrais sindicais.
A Fitmetal está bem sintonizada nesse sentido e começa a se movimentar. A campanha “Brasil Metalúrgico” vai ajudar – e muito –, porque precisamos entrar nesse debate e dialogar com a classe trabalhadora. Os metalúrgicos e os trabalhadores da indústria serão os alicerces dessa grande batalha. Vamos lutar para que o Brasil reencontre o caminho do crescimento econômico, com atenção especial à centralidade do trabalho. Tão necessário quanto compreender o desenvolvimento nacional é valorizar o trabalho e o trabalhador.