"Papel dos EUA na Síria é desnecessário, deveriam se retirar"
O presidente Sírio, Bashar Assad, disse que não vê papel dos EUA ou de sua coalizão na Síria enquanto estiverem apoiando terroristas.
Publicado 24/08/2017 14:28
O presidente Sírio, Bashar Assad, disse que não vê papel dos EUA ou de sua coalizão na Síria enquanto estiverem apoiando terroristas, explica Elizabeth Murray, ex-representante do escritório de Inteligência Nacional dos EUA.
Ao menos 40 civis foram mortos em ataque na cidade síria de Raqqa, de acordo com fontes locais.
Os ataques, aparentemente, miraram em uma área residencial ao norte da cidade, que é o forte do Estado Islâmico na Síria.
Mulheres e crianças estão entre os mortos. De acordo com relatos, o número de mortos pode aumentar, com suspeitas de pessoas presas nos escombros.
A seguir uma conversa com Elizabeth Murray que trabalha para a Inteligência Nacional do Oriente Médio.
RT: O exército dos EUA se recusou a reconhecer as mortes dos civis. Acha que deve ser mais transparente sobre o que está acontecendo em Raqqa?
Elizabeth Murray: Claramente, é do interesse dos EUA e de sua coalizão acobertar essas mortes. No entanto, sabemos por experiência que essas mortes vão crescer enquanto os EUA segue para tomar Raqqa do EI. Com 200.000 civis em risco, deve-se perguntar, qual é o preço dessa liberação. É a mesma situação que vimos no Iraque em Mosul, onde a população civil e a infraestrutura do local foram simplesmente devastadas.
Acho que também é importante lembrar que, ontem, o presidente democraticamente eleito da Síria, Bashar Assad, especificamente disse que não vê papel nenhum para os EUA ou sua coalizão na Síria enquanto estiverem apoiando terroristas. Claro, ele está se referindo ao suprimento contínuo de armas norte-americanas à grupos como Nusra e Al-Qaeda, muitos dos quais acharam o caminho para as mãos do EI.
Também sabemos que os EUA usou cinicamente o EI anteriormente para tentar depor Assad. Então isso está ficando fora de controle com muitos jogadores na partida. Também é verdade que os EUA tem bombardeado áreas ao sul de Raqqa, onde o exército sírio está posicionado, e houve mortes lá.
Então, com os EUA entrando de penetra e matando civis em Raqqa, a situação poderia facilmente ficar fora de controle. Também acho que já é conhecimento que o governo sírio, junto com seus aliados na região, e também a Rússia, têm feito um ótimo trabalho conduzindo o problema terrorista na Síria. Então, novamente, é importante notar que os EUA está continuando essas atividades em Raqqa ostensivamente para liberá-la, mas, é claro, teremos que ver qual será a agenda dos EUA na área afinal.
Em junho, a ONU alertou sobre a grande 'perda de vidas' devido aos ataques aéreos dos EUA em Raqqa. E, ainda assim, só aumentaram desde então. Qual você considera ser o jogo final dos EUA em Raqqa?
Seus aliados nessa área são os Curdos, e os Curdos têm seu próprio interesse, mesmo eu não acreditando que seja uma área de maioria curda. O problema é que depois de o EI se dirigir para lá, haverá uma situação de instabilidade. É verdade que os EUA está tentando treinar 3.500 milicianos para estabilizar a região, como uma força de estabilidade lá, mas não é uma região de soberania já que pertence à Síria. É só questão de tempo antes que essa força tenha que lidar com o governo de Assad. Não há papel legítimo ou aceitável para os EUA na região. Como disse anteriormente, os aliados sírios vão achar uma função, e já estão no sul de Raqqa trabalhando para libertar o EI.
É óbvio que os EUA provavelmente quer manter algum tipo de presença, mas não é bem-vindo na região. Se a pressão se tornar muito intensa para os curdos, é possível que os EUA apenas puxe o tapete debaixo deles e retire seu apoio, como já fizeram no passado em outras áreas, como no Iraque – e deixar os curdos ao seu destino. Os curdos estão obviamente sofrendo com pressões do lado turco também. Se seus aliados norte-americanos saírem, então não terão chance além de fazer negócios com o governo. O papel dos EUA é desnecessário, e deveriam se retirar da Síria assim que possível