Fortaleza: Congresso reafirma Jornalismo como essencial à democracia
O I Congresso Estadual Extraordinário dos Jornalistas no Ceará e III Encontro Estadual de Jornalistas em Assessoria de Imprensa aconteceu no ultimo final de semana, de sexta-feira (11) a domingo (13), no Espaço Cultural Belchior, na Praia de Iracema, em Fortaleza.
Publicado 16/08/2017 10:10 | Editado 04/03/2020 16:23
“O jornalismo que vem sendo feito no nosso país não é o que queremos, não é o que precisamos e, em algumas vezes, sequer pode ser chamado de jornalismo“. As palavras da presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), Samira de Castro, ressaltaram a emergência e importância do debate sobre como o jornalismo afeta e está sendo afetado pela atual conjuntura política brasileira.
Celebrada por sua diversidade, a mesa de abertura do Congresso contou com a participação de representantes de partidos políticos progressistas, movimentos sociais, sindicatos e federações de trabalhadores. Participaram integrantes CUT Ceará, da Frente Brasil Popular Ceará, da Frente Povo Sem Medo, do MST, do MAB, da UNE, da Juventude Kizomba, da Fetamce, da Confetam, do Levante Popular da Juventude, entre outros.
Dividida em dois momentos, a cerimônia de abertura do Congresso contou com a fala introdutória do Secretário da Ciência e Tecnologia e Educação Superior do Ceará, Inácio Arruda (PCdoB), representando o governador do Estado, Camilo Santana. O secretário fez uma rápida recapitulação das mudanças políticas dos últimos dois anos e enfatizou que o processo de impeachment sofrido por Dilma Rousseff foi, sem receios, golpe. Inácio ressaltou a importância da imprensa e do jornalismo em períodos de crise como o que o Brasil está passando atualmente e denunciou o sucateamento intencional da profissão por meio de medidas como a não obrigatoriedade do diploma, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009.
Samira de Castro encerrou o ato de abertura destacando que é fundamental “reafirmarmos a importância e a relevância do jornalista e do jornalismo como pilar essencial para a democracia”. A presidente denunciou o papel decisivo dos conglomerados midiáticos na construção da narrativa que culminou no impeachment de Dilma. Lamentou a decisão das empresas pelo partidarismo e a degradação do serviço jornalístico. O público reagiu com gritos de “Fora Temer” e “Diretas Já”.
A conferência “O jornalista e as mudanças no jornalismo e no mundo do trabalho”, com a jornalista e professora Fabiana Moraes, foi o tema destaque do primeiro dia. A temática foi também o principal objetivo do encontro que contou com 180 profissionais e estudantes inscritos. Vencedora de três prêmios Esso, Fabiana refletiu sobre o olhar do jornalista e como a narrativa de jornais pode e deve fugir de obviedades. Usando como exemplo quatro reportagens assinadas por ela, a jornalista contou os bastidores de cada uma, dando dicas de como tornar uma história importante, relevante e representativa. Encerrando sua participação, Fabiana questionou a diferença salarial entre jornalistas homens e mulheres em um país onde a profissão é de maioria feminina.
Jornalistas cearenses aprovam plano de lutas
Com cerca de 180 participantes, entre jornalistas profissionais, professores, estudantes de jornalismo e representantes de outros grupos profissionais, o I Congresso Estadual Extraordinário dos Jornalistas do Ceará/III Encontro Estadual de Jornalistas em Assessoria de Imprensa (EEJAI), encerrou-se no último domingo (13), com a eleição de delegados para o 3º Congresso Nacional Extraordinário dos Jornalistas/21º Encontro Nacional de Jornalistas em Assessoria de Imprensa e a definição de um Plano de Lutas para os jornalistas cearenses.
Cinco jornalistas foram aclamados como delegados profissionais e vão representar o Ceará na etapa nacional do evento, que acontece de 7 a 9 de dezembro, em Vitória (ES). O Congresso Nacional Extraordinário acontecerá depois de, inspirada na construção feita pelo Sindjorce e diante da necessidade de avaliar o futuro da profissão, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) também convocar um encontro desta natureza.
Os delegados cearenses escolhidos foram Washington Feitosa, Polianna Uchoa, Mariana Cunha, Germana McGregor e Nathan Camelo. Como delegado estudante, foi apontado Marden Fraga, da Unifor. E compõem ainda a delegação do Ceará, como observadores, a jornalista Luizete Vicente e os acadêmicos Letícia Alves e Naélio Santos.
Plano de Lutas
O planejamento de ações dos operários da notícia do Ceará conta com mais de 90 propostas, com destaque para a intensificação do processo de luta contra a precarização na categoria e a tomada de medidas para o desenvolvimento de novos espaços de produção do jornalismo, calcadas na perspectiva da democratização da comunicação.
Dividido em seis eixos, o Plano de Lutas construído no Congresso inclui medidas relacionadas à Combate à Precarização das relações de trabalho e organização sindical; Empregabilidade e novas formas de exercício profissional; Igualdade de oportunidades e defesa dos direitos humanos; Segurança para jornalistas; Comunicação contrahegemônica; e Defesa do jornalismo e dos jornalistas.
Entre os encaminhamentos estão a defesa do cumprimento da jornada de 30 horas semanais dos jornalistas; a proposta de criação de uma cooperativa estadual de jornalistas, que seria ancorada em um portal de notícias de cunho progressista; a instituição de ações afirmativas em convenções coletivas de trabalho, de forma a preservar direitos de jornalistas negros(as), mulheres, LGBTs, com deficiência e jovens; a luta pela criação de um Protocolo Estadual de Segurança para Jornalistas; a luta pela criação de uma rede de comunicação popular e alternativa, com o campo progressista, sindical, social e comunitário do Estado; e a instituição de campanha de valorização profissional, defendendo o jornalismo e a profissão de jornalista.
“Mais do que nunca, é necessária a luta unificada dos jornalistas de todos os tipos de mídia, seja comercial, sindical, governamental e outros. É preciso refletirmos juntos sobre o papel do jornalismo e da organização dos jornalistas. Somente a organização dos trabalhadores e a resistência dos jornalistas podem apontar alguma perspectiva de mudança. Eu acredito nisso. A nossa batalha ganhou com este evento um novo combustível. Estamos prontos para as lutas e seguiremos, como disse Che Guevara, ‘derrota após derrota até a vitória final’”, destaca Samira de Castro, presidenta do Sindjorce.
No Congresso, também foram aprovadas Moções, com destaque para a que repudia a intransigência patronal nas Campanhas Salariais de Jornais/Revistas e Rádio/TV, onde as empresas de comunicação tentam impor aos jornalistas um achatamento salarial, com propostas abaixo da inflação.
Para o secretário-geral do sindicato, Rafael Mesquita, a hora é de levantar a voz: “Estamos passando por um momento crítico no jornalismo e nos demais setores da vida pública, por isso, mais do que nunca, chamamos a categoria a se organizar e construir coletivamente ações de luta e resistência. E este Congresso foi prova de que isso é perfeitamente possível. Foi um encontro perfeito entre organização, convidados e participantes. Uma verdadeira simbiose. Foi a construção de um sentimento comum. Um marco na história de combatividade e representatividade dos jornalistas do Ceará”, enfatiza.
Depoimentos
A grandeza do evento contagiou os profissionais e estudantes que marcaram presença no evento. Confira alguns depoimentos que extraímos das redes sociais do sindicato:
“Sindjorce, ainda estou contemplado com a maravilha que foi este congresso. Obrigado por proporcionar aos jornalistas do Ceará um encontro tão virtuoso. Foram 3 dias de reflexões, amadurecimento profissional, trocas de experiências e estímulos para transpor os muros que insistem em se erguer no caminho. Não tenho dúvidas que “a comunicação foi e sempre será palcos de lutas”, disse Wescley Gomes, jornalista.
“Antes de tudo, parabéns pelo oportunidade do Congresso. Vocês conseguiram realizar um momento de reflexão de grande importância”, refletiu Miguel Macedo, jornalista e professor da UNI7.
“Parabenizo a presidenta Samira de Castro, Rafael e todas e todos que trabalharam para realizar o I Congresso Estadual Extraordinário dos Jornalistas do Ceará e III Encontro Estadual de Jornalistas em Assessoria de Imprensa (EEJAI). Foi sensacional, hiper organizado”, comemorou Daniel Pearl Bezerra, do Jornalistas Livres/Mídia Livre.
“O Sindicato dos Jornalistas do Ceará teve a iniciativa de promover um congresso extraordinário neste fim de semana, para discutir as mudanças no mundo do trabalho, a ética e a destruição de direitos promovida pelo golpe. Situações extraordinárias pedem ações extraordinárias: este foi o sentido da coisa. E foi muito bom. Ver o auditório do Centro Cultural Belchior lotado numa sexta à noite e num fim de semana, saber que 200 pessoas compareceram, que profissionais e estudantes se empenharam nos debates, foi alentador. Fiquei muito feliz de ter participado”, disse Sylvia Moretzsohn, professora da UFF, que foi palestrante no evento.
“Gostaria de parabenizar pelo ótimo Congresso. Todos os painéis foram bastante ricos e proveitosos”, comentou Tarcísio Aquino, jornalista.
“A atividade, realizada no Centro Cultural Belchior em Fortaleza, proporcionou um fértil espaço de discussão e compreensão do jornalismo atual. Os novos meios de exercício da profissão foram pauta, assim como o papel social dos jornalistas diante do cenário político brasileiro. Figuras de luta e que encabeçam a comunicação contra-hegemônica da grande mídia fomentaram os debates”, avaliou Naélio Santos, estudante de jornalismo.