Rio: Enquanto UPPs fracassam, mortes violentas crescem 15% em um ano

Crise de segurança pública no estado se agrava e mostra sua seletividade ao estabelecer confrontos nas favelas, onde há a derrocada das UPPs

Por Verônica Lugarini*

UPP - Fernando Frazão/ Agência Brasil

 A Folha de S.Paulo divulgou nesta quinta-feira (3) dados alarmantes sobre o estado de calamidade do Rio de Janeiro. De acordo com a reportagem, foram 3.457 mortos nos primeiros seis meses de 2017, pior registro desde 2009 (3.893), segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública).

A área que teve mais mortes foi a Baixada Fluminense (23%), conjunto de 13 municípios, com 3,7 milhões habitantes, na região metropolitana. No entanto, a capital não ficou muito atrás, com aumento de 21%.

Este último indicador, que sugere confronto, foi o que mais subiu dentre as mortes violentas, em relação ao primeiro semestre de 2016 (45%). E demonstra que as Forças Armadas devem ser ineficientes diante desse cenário.

A situação vem se agravando desde a crise econômica e política no país. Atualmente, o déficit nos cofres públicos do estado é de R$ 21 bilhões e deve continuar diante da omissão de um governo que não privilegia políticas públicas e dá continuidade às desigualdades sociais com ênfase em estratégias de combate à criminalidade que não tem resultados positivos, mas que apenas geram mais violência.

A derrocada das Unidades de Polícia Pacificadora, conhecidas como UPPs – criadas em 2008 pelo então governador Sérgio Cabral – provam a ineficiência da inserção da polícia dentro das favelas. Desde sua implantação, os conflitos têm sido mais frequentes. Um estudo da Polícia Militar aponta que houve 1.555 confrontos em 2016 em lugares com UPP contra 13 em 2011.

Segundo Marcelo Freixo, deputado estadual do PSOL, é necessária uma política de segurança eficaz que compreenda o mecanismo da cidade para assim, caminhar em direção às soluções e não insistir em um modelo de cidade e de segurança que não funciona. O deputado ainda frisou, durante audiência no Ministério Público, que a favela não pode ser o espaço do medo como está acontecendo no Rio.

A opinião do antropólogo e especialista em segurança pública Luiz Eduardo Soares, em entrevista ao G1, também constata necessidade renovação nas políticas de segurança do estado.

"O padrão tem sido o mesmo: confronto com 'o tráfico', adotando incursões bélicas às favelas, que matam inocentes, suspeitos e até mesmo policiais. A velha 'política' da conhecida – e derrotada – guerra às drogas", lamentou o especialista.

É diante desse quadro – recessão, escassez de recursos para a polícia, crise financeira e desemprego – que também cresceram as mortes por bala perdida no Rio de Janeiro. Até o início do mês de julho, o estado já teve 632 vítimas.

Os mais afetados por esse estado de guerra, e de forma desproporcional, são os moradores das favelas, local em que vem sendo instaurado um território de guerra. Há, portanto, uma seletividade das áreas de confronto.

Servidores

Além do desgaste da política de segurança pública, a crise financeira causou o atraso no salário dos servidores, como os policiais que estão sem receber 13º, bônus, o adicional por metas e o valor pelo trabalho na Olimpíada. 

O problema também afeta as possíveis novas contratações, o estado não tem recursos para absorver PMs aprovados em concursos.