As prostitutas menores de idade levadas para a Europa
A Organização Mundial para a imigração públicou os novos dados: as vitimas aumentaram 600% em dois anos, e a maioria é menor de idade.
Por Francesca Sironi
Publicado 21/07/2017 19:09
As denúncias são poucas. Apenas 78 de 7000 vítimas são identificadas. “As meninas que prestam queixa precisam de imensa coragem para enfrentar a própria família estando em um país estranho sozinhas, confiando em operadores recém-conhecidos”, diz Carlotta Santarossa, da Organização Mundial da Imigração, responsável pela última pesquisa sobre as pessoas levadas para a Europa através da rota dos refugiados no mar Mediterrâneo central para virarem escravas. No caso, entram para o mercado sexual.
Fazem dois anos que a organização denuncia os números alarmantes de jovens mulheres, especialmente nigerianas, que desembarcam nos portos do sul da Itália e cujo destino na maioria dos casos é a exploração sexual. Os números continuam aumentando: as potenciais vítimas (assim caracterizadas devido a uma série de indicativos) foram 8.277 no ano passado. Entre 2014 e 2015 não chegavam em 3.400. Em mais de 6.500 dos casos foram identificadas como tais. Dessas, apenas 78 denunciaram.
Os motivos pelos quais não denunciam são diversos: a exposição, o medo do contrato feito no país de origem, as ameaças dos traficantes e a dívida da viagem. “Existe uma falta de consciência de que são vítimas. Além disso, na maioria dos casos, as meninas só descobrem o que é sexo aqui”, continua Santarossa, “isso porque são muito jovens, o que é o ponto mais preocupante, que vai piorando de ano em ano: a idade”.
As meninas que desembarcam para serem posteriormente levadas para diversas partes da Itália e da Europa como prostitutas são em sua maioria menores de idade. Adolescentes entre 12 e 13 anos, convencidas a abandonar seu país e depois vendidas nas estradas. De 290 vítimas encontradas pelas autoridades ou encaminhadas para algum meio de assistência em 2016, 164 eram menores de idade. Das 135 relatadas pela rede anti-tráfico, 87 não possuíam 18 anos.
É a história de Precious, de 17 anos, nigeriana. Na primavera de 2016 a polícia a encontrou em uma estrada na Sicília. Assustada, disse ter 21 anos para o delegado e querer encontrar a irmã. Os agentes encontraram suas digitais no arquivo: ela desembarcou há cinco meses, e era menor de idade. Os promotores entraram em contato com a Organização Mundial da Imigração, que a achou em um condomínio fechado, para onde tinha sido levada quando chegou no país. Ela ainda estava vestindo uma peruca vermelha e um vestido apertado que lhe haviam dado para procurar clientes na estrada. As agentes da organização lhe contaram a história de uma garota como ela, obrigada a se prostituir para pagar a dívida da viagem.
Precious desabafou que nunca havia feito sexo com um homem antes de desembarcar na Itália. Era obrigada a ficar na estrada 12 horas por dia, e estava com medo de ter contraído alguma doença sexualmente transmissível. Tinha receio também do contrato e de quem a conhece. A Organização Mundial da Imigração foi ao seu encontro todo dia durante um mês. Ela contou que não conseguia dormir, que já tentou fugir e voltar para os traficantes e que as vezes pensava em morrer: “as vezes, porém, o medo de voltar para a estrada e para a prostituição é maior do que todos os outros”, conta a agente que cuidou dela. No final, Precious encontrou a coragem para denunciar, e hoje vive em uma instalação segura, aprendeu o italiano e está estudando para ser mediadora cultural.
É essa a esperança que Santarossa quer passar: “o foco das instituições está mudando”. As associações estão tentando descobrir quando há algo de errado e intervir em tempo, mas muitas vezes ainda falta estrutura e vagas em unidades especializadas. Por isso a atenção para esse problema só deve aumentar: não agir para defender essas meninas é ser cumplice.