Mausoléus homenageiam trabalhadores mortos pela polícia em Campinas
Foram localizados, no Cemitério da Saudade, em Campinas, três mausoléus que homenageiam operários assassinados por soldados da Força Pública de Campinas durante a greve de 1917. Neles estão enterrados os restos mortais de Antônio Rodrigues Magotto e Tito Ferreira de Carvalho. O terceiro mausoléu, de Pedro Alves, está desfigurado.
Publicado 20/07/2017 16:17 | Editado 04/03/2020 17:15
Trata-se de uma das primeiras homenagens a trabalhadores mortos pela repressão policial no Brasil, a primeira com recursos angariados por uma Comissão de Operários. As contribuições vieram da população e de várias empresas locais, dentre elas a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e a Cia. Mac Hardy Manufatureira e Importadora, onde os operários mortos trabalhavam. A Comissão também fez uma subscrição pública que foi divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo, em 23 de julho de 1917. Os jazigos foram idealizados e confeccionados pelo artesão Antônio Coluccini.
Segundo o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, ”as campas que cobrem as sepulturas foram trabalhadas em mármore Carrara. O epitáfio do primeiro, em baixo relevo registra: Eterna Homenagem Operária a Antônio R. Magotto, 23-9-1889 e o fatídico 16-7-1917. O epitáfio do segundo, também em baixo relevo aponta: Eterna Homenagem Operária a Tito de Carvalho, 10-6-1859 e 16-7-1917. Em ambos há uma pira encimada pelo símbolo do fogo do martírio, sustentada por uma base de mármore cinza-andorinha e a inscrição em baixo relevo: Paz. Na face frontal da torre do segundo, há uma estrela com irradiações, representando o homem perfeito. No primeiro, a estrela com irradiações desapareceu. Nos epitáfios de ambos, grosseiramente violentados por golpes de marreta e talhadeira se pode ver, ainda parcialmente: Barbaramente assassinados pela polícia na porteira do Capivara”.
As mortes ocorreram durante a primeira greve geral ocorrida no Brasil. Segundo o jornalista Braulio Mendes Nogueira, o movimento era pacífico e coordenado por uma comissão formada pelos torneiros Godofredo Carvalho, José Siemens e o ajustador Francisco Duarte. Os grevistas saiam às ruas pedindo e recebendo apoio e adesão de outros trabalhadores.
No dia 16 de julho de 1917, um dos líderes do movimento na cidade, Ângelo Soave, foi preso e boatos sobre sua transferência para a capital paulista espalharam-se rapidamente entre os trabalhadores. Os grevistas acionaram o advogado Pedro de Magalhães que foi à delegacia tentar liberar o trabalhador. Ficou acertado que Soave seria solto, mas em seguida surgiu o boato que ele estaria no trem da Cia. Paulista que partiria às 15h. Várias pessoas seguiram até um local então conhecido como porteira da Capivara – uma antiga passagem de nível no cruzamento da avenida João Jorge com rua Visconde do Rio Branco – para impedir a saída do trem.
O livro Falsa Democracia, do jornalista Álvaro Ribeiro, descreve o que aconteceu: vindo de São Paulo, parara, ante prévio aviso, na Ponte Preta, a duas centenas de metros aquém da porteira do Capivara, um trem especial, conduzindo duzentas praças de polícia. Desembarcados, vieram os soldados pela linha que ali faz uma curva, agachados, e sorrateiramente, pé ante pé, como caçadores de feras, fuzis preparados para, de improviso, erguerem-se diante dos inofensivos operários e alvejá-los. Pois bem, nem assim escaparam à sanha assassina. Atirados pela soldadesca sedenta de sangue, caíram varados pelas balas dos mercenários da democracia republicana 19 pessoas – 3 mortos e 16 feridos. Examinadas as vítimas, nenhuma tinha armas e quase todas apresentavam ferimentos pelas costas, ficando comprovada a covardia.
Dias antes das mortes, os grevistas haviam distribuído um boletim que dizia: Soldados! Chega de violências! Não vos presteis a servir de instrumentos de opressão a serviço dos Matarazzos, Gambas, Crespis e de outros exploradores do povo. São esses capitalistas que levam a fome e a miséria aos lares dos trabalhadores. Soldados! Recusai-vos o papel de carrascos.
Os monumentos estão localizados na avenida das Quaresmeiras, quadra 32, sepulturas de números 40 e 41, praça Voluntários de 32, s/n – bairro Swift – Campinas.