A derrocada da Rede Globo
A Rede Globo, o grande grupo hegemônico da mídia brasileira, não teve os direitos de transmissão dos dois últimos jogos da Seleção brasileira. A CBF optou, assim como outras federações, por realizar a própria produção e comercialização dos seus jogos. Houve a compra de horários da TV Cultura para a exibição e uma equipe de profissionais foi contratada para se encarregar da parte técnica.
Por Fernando Perez
Publicado 18/07/2017 08:10
O golpe foi tamanho que a Rede Globo anunciou a saída de seu diretor de esporte.
Há ainda outros fatos que levam a crer que está se formando um movimento de deslocamento na hegemonia da mídia brasileira com a derrocada do Grupo Globo e com a entrada de grupos econômicos estrangeiros no país. Além da perda dos direitos dos últimos jogos do selecionado, outros fatores devem ser levados em consideração:
1. A decisão de Atlético Paranaense e Coritiba de não vender os direitos de transmissão de suas partidas pelo Campeonato paranaense e transmitir o jogo exclusivamente por vias digitais (Facebook e Youtube.)
2.A entrada do Esporte Interativo – que integra a estadounidense “Turner Broadcasting System” – com força na disputa pela compra dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro na rede paga de televisão. Adquirindo a exclusividade de transmissão na rede fechada a partir de 2019 dos jogos de: Santos, Internacional, Atlético Paranaense, Bahia, Ceará, Coritiba, Santa Cruz e Ponte Preta, entre outros times da Série A à Série D.
3.O declínio de audiência das novelas que vem perdendo mercado para sistemas de streaming, notadamente, a Netflix.
Para se compreender como a sempre vista como imbatível Rede Globo chegou a tal ponto, deve-se inserir globalmente a situação local e se compreender os movimentos do imperialismo que levaram à beira do abismo a gigante das telecomunicações.
Com o final da segunda guerra mundial, iniciou-se o processo de expansão internacional das empresas estadounidenses, obtendo sucesso em quase todos os setores da economia, com a exceção de alguns protegidos pelos Estados Nacionais. No Brasil, a proteção atingiu alguns setores estratégicos, como o Petróleo e a Mídia. O primeiro setor já foi praticamente aniquilado e entregue aos estrangeiros pela ação da operação lava-jato e o segundo vem sofrendo fortes derrotas com o avanço da internet e dos sistemas de streaming.
Os dois carros chefes da televisão nacional – em termos de audiência- são o futebol e as novelas. Estas tem perdido exponencialmente sua audiência com a expansão de empresas como a Netflix e a popularização das séries estrangeiras. O futebol se encontrava altaneiro no topo da audiência Global, quase incólume aos ataques dos grupos estrangeiros, até o ano passado.
A análise do quase monopólio da transmissão do futebol pela Rede Globo se deve a sua aliança com a Confederação Brasileira de Futebol e com a FIFA. Um acordo no qual a exclusividade na transmissão dos grandes eventos gera divisas que são compartilhadas com os clubes. Como contrapartida, os clubes mantém através do voto o mesmo grupo político no controle da Federação, que, por conseguinte, mantém o comando diretivo da FIFA. Essa relação se manteve estável até o FBI entrar em cena e divulgar os esquemas de corrupção do grupo que ia de Joao Havelange à Blatter.
Mas, porque o FBI após tantos anos resolveu investigar e prender aqueles envolvidos nos esquemas de corrupção do futebol?
A explicação se encontra no cenário internacional de combate à corrupção que se criou no pós 11/09, o FBI, sob o pretexto do combate à corrupção e ao terrorismo, passa a atuar pelos interesses nacionais estadounidenses que estão estrategicamente atrelados aos interesses de suas gigantes multinacionais.
De tal forma que em ação coordenada com grupos policiais e do judiciário passa a atuar na destruição dos grupos hegemônicos dos setores estratégicos da economia nacional que não estavam ao alcance dos braços compridos do Tio Sam. Após a limpeza do terreno com a destruição de tais grupos, o cenário se encontra preparado para a entrada do capital estrangeiro. Há uma verdadeira política de terra arrasada, no qual a única solução que se faz possível, ante tamanha destruição, é a entrada dos grupos dos EUA.
Iniciou-se, portanto, a derrocada do maior grupo de mídia brasileiro que, em verdade, nunca representou os interesses nacionais, atuando muitas vezes contra eles. Seria leviano afirmar que a tão esperada queda da Rede Globo acontecerá para que surjam mídias populares e independentes do poder econômico. Pelo contrário,o cenário estará completamente livre para o Grupo Turner, para a Netflix e para a onipresença orwelliana do Facebook. Consagrando, a completa união entre Poder Econômico e Poder Midiático, com as bênçãos do Imperialismo.