Para lideranças do movimento social, unidade é única saída

A unidade dos movimentos populares, sociais e sindicais é a única alternativa para manter a resistência ao governo de Michel Temer e suas reformas. Foi esse o foco das intervenções de líderes de movimentos sociais nesta sexta (14), durante o 8º Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Químico da CUT.

Boulos e Gilmar Mauro - Roberto Parizotti-CUT / CartaCapital

“Para enfrentar o tamanho do retrocesso, precisamos estar todos juntos. A unidade agora não é uma escolha, é uma necessidade. Ou estão o movimento popular e o movimento sindical numa mesma trincheira enfrentando isso, ou vamos perder e apanhar cada um no seu canto, sendo criminalizado cada um no seu canto”, alertou Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), uma das organizações mais influentes da Frente Povo sem Medo. .

Boulos afirmou que a esquerda precisa ter a dimensão da gravidade do Estado de exceção em marcha. “A condenação do presidente Lula sem nenhuma prova, ao mesmo tempo em que Temer é salvo na CCJ, com um monte de provas, mostra que o Judiciário no país se tornou uma facção política, institucionalizando medidas de exceção e tornando isso regra. Se a gente não reagir agora, vai chegar um momento em que a gente não vai ter condições de reagir.”

Com análise semelhante, Gilmar Mauro, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), um dos principais integrantes da Frente Brasil Popular, defendeu que as lideranças do campo democrático e popular deixem de lado o personalismo e as visões de mundo diferentes para unir forças. Ele também alertou para a necessidade de movimentos e lideranças estabelecerem estratégias e táticas de médio e longo prazos.

“É preciso criar unidade, que não é feita de organizações padronizadas, mas diferentes. As alianças não se dão entre iguais, mas entre diferentes. Precisamos ter ações e projetos comuns respeitando as diferenças entre nós. São necessárias alianças e unidade para construir uma cultura política de frente”, disse Gilmar.

Apesar da crise, o dirigente do MST se declarou otimista. “A crise abre portas para a construção da consciência política para dar maturidade e ter um projeto comum, que nos leve a enfrentar essa conjuntura e plantar as sementes socialistas no Brasil e no mundo.”

Para Guilherme Boulos, a gravidade do momento pode ser medida pelo balanço de pouco mais de um ano de governo Temer, período em que o país retrocedeu nos três pactos sociais firmados no último século. “O mais recente, o pacto lulista, com seus limites e contradições, que pautou os governos a partir de 2003, está sendo totalmente desmontado.”

O outro pacto que Temer e aliados estão desconstruindo é o da Constituição de 1988, avalia Boulos. “As redes de proteção social, educação e saúde pública estão saindo do horizonte. E agora, não contente em desmontar esses dois pactos dos últimos 20 anos, desmontam o pacto varguista, que garantia algum tipo de segurança no trabalho a milhões de trabalhadores”, acrescentou, em referência à reforma trabalhista.

Sem citar nomes, Gilmar Mauro criticou setores divisionistas da esquerda caracterizada por lideranças personalistas, a quem atribui “um vanguardismo autoproclamado”. “Uma esquerda que comemora derrota de outra esquerda não é esquerda”, disse. “A boa negociação se dá se a categoria faz uma boa luta. A conquista não é do dirigente, mas da classe em luta. Precisamos de planejamento de longo prazo. Os capitalistas fazem planejamento de 20 anos. Nós temos dificuldade de planejar quatro ou cinco anos.”

Para o coordenador do MST, no momento histórico atual, o desenvolvimento do capitalismo produz retrocessos históricos “do ponto de vista da legislação e da humanidade”. “Nossas organizações (estão) marcadamente com dificuldade de articulação internacional e têm dificuldade de fazer o enfrentamento ao capital nesse tempo histórico.”