Internet terá mais influência que a Globo em 2018
Pela primeira vez, uma pesquisa extraiu da boca do eleitor o que urnas e ruas sugeriam mas faltavam elementos para provar: a internet virou o maior influenciador para eleger um presidente. Sondagem inédita do Ibope revela que 56% dos brasileiros aptos a votar confirmam que as mídias sociais terão algum grau de influência na escolha de seu candidato presidencial na próxima eleição.
Por José Roberto de Toledo, no Estadão
Publicado 16/06/2017 11:47
Para 36%, as redes terão muita influência.
Nenhum dos outros influenciadores testados pelo Ibope obteve taxas maiores que essas.
Nem a mídia tradicional, nem a família, ou os amigos – o trio que sempre aparecia primeiro em pesquisas semelhantes. Muito menos movimentos sociais, partidos, políticos e igrejas.
Artistas e celebridades ficaram por último.
TV, rádio, revistas e jornais atingiram 35% de “muita influência” e 21% de “pouca influência”, somando os mesmos 56% de peso da internet.
A diferença é que seus concorrentes virtuais estão em ascensão – especialmente junto aos jovens: no eleitorado de 16 a 24 anos, as mídias sociais têm 48% de “muita influência” eleitoral, contra 41% da mídia tradicional.
No total, conversa com amigos chega a 29% de “muita influência” para escolha do candidato a presidente, contra 27% das conversas com parentes.
Movimentos sociais alcançaram 28%.
A seguir aparecem partidos (24%), políticos influentes (23%), líderes religiosos (21%) e artistas e celebridades somados (16%).
Por que a internet tem um peso tão grande na eleição?
A constatação do Ibope é importante por levantar essa questão, mas, sozinha, não é suficiente para respondê-la.
Outras pesquisas baseadas em resultados eleitorais e estudos empíricos ajudam a entender o fenômeno, mesmo que indiretamente.
Lançado em 2016 nos EUA, o livro “Democracy for Realists” vem provocando polêmica por contestar o conceito popular de que, na democracia, o eleitor tem preferências claras sobre o que o governo deve fazer e elege governantes que vão transformá-las em políticas públicas.
Para os autores, e dezenas de fontes que eles compilam, não é bem assim.
O “do povo, pelo povo, para o povo” funciona na boca dos políticos, mas não na prática.
No mundo real, pessoas elegem representantes mesmo cujas ideias e propostas estão em desacordo com o que elas pensam.
Não fosse assim, os congressistas brasileiros deveriam sepultar em vez de aprovar as reformas da Previdência e trabalhista, rejeitadas pela maioria dos que os enviaram para Brasília.
Segundo Achens e Bartel, o eleitor não vota em ideias, mas em identidades.
Elege quem ele imagina que representa o seu lado contra o outro – sejam quais forem os lados. É aquela piada irlandesa. “Você é católico ou protestante? Ateu. Mas você é ateu católico ou ateu protestante?”.
Ou seja: de que lado está?
Nos EUA, essa linha é mais fácil de traçar porque as identidades se resumem, eleitoralmente, a duas legendas.
Mesmo na disruptiva eleição de Trump, 95% tanto de republicanos quanto de democratas votaram nos candidatos de seus partidos.
E no Brasil, onde dois em cada três eleitores dizem não ter preferência partidária?
Nas eleições de 2004 a 2014, a geografia separou petistas de antipetistas.
Bairros, cidades e Estados mais pobres ficaram majoritariamente de um lado; enquanto moradores dos locais mais ricos, em geral, ficaram do outro.
Em 2016, não mais. A internet misturou e segue confundindo essas fronteiras.
A construção de identidades virtuais via Facebook e Twitter aproxima forasteiros e afasta vizinhos.
Proximidade física importa, mas menos.
Quanto mais tempo ele passar online, mais a internet influenciará o eleitor.
O celular bateu a TV também na urna.