Alexandre Weffort: O "oportunismo crasso" do PSDB
O prometido desembarque não se fez, ainda. O comportamento oportunista do PSDB era previsível. Oportunismo deslavado que ficou patente no modo como os argumentos pró e contra o desembarque foram sendo colocados. O PSDB merece ficar, ora em diante, colado ao conceito de "oportunismo crasso".
Por Alexandre Weffort*
Publicado 13/06/2017 17:20
O "oportunismo crasso" recorre ao nome de Marco Licínio Crasso, político romano que viveu entre 114 e 53 a.C. e ao chamado "erro crasso", que a História conservou com valor de paradigma por mais de dois milénios. Erro de natureza estratégica, do qual resultou a derrota na batalha de Carras, o "erro crasso" simboliza a falha grosseira com consequências trágicas e fatais. Já no caso do "oportunismo crasso" do PSDB não há falha: é absolutamente intencional, crónico e doloso.
As notícias publicadas na mídia dão conta do óbvio: em maio passado, ao comentar o escândalo das conversas de Temer com os donos da JBS, FHC já dizia que "o PSDB, “tem que ter cautela” para desembarcar do governo por apoiar desde o início o plano econômico de Temer. Disse que seria “oportunismo” sair correndo num primeiro momento. Não descartou, no entanto, uma mudança de opinião do partido".
Neste fim de semana, a mídia apontava:"… o que está em jogo agora, dizem os dirigentes tucanos, é o futuro do partido e seu papel em 2018. A avaliação recorrente é de que o PSDB já perdeu o protagonismo do desembarque e ainda queimou a largada ao prospectar a eventual candidatura de Tasso Jereissati (CE) em caso de eleição indireta".
Por fim, em matéria intitulada "Permanência do PSDB fortalece Temer, mas é arriscada para tucanos" diz-se, que "o temor é que o desgaste do presidente acabe contaminando os tucanos e fragilizando o discurso anticorrupção entoado por congressistas do partido", mas em contraponto, e citando Esther Solano, professora de sociologia da Unifesp, afirma que "é do interesse de Aécio e de seus aliados ter o apoio do PMDB para tentar esticar seu mandato e se proteger da Lava Jato".
O discurso da anti-política (de Dória, entre outros) já se conformou à prática política dominante, onde campeia a corrupção. A máscara ideológica envernizada da direita institucional caiu junto com Aécio. Sobrou aquilo que a irmana com Temer e seu governo. A contradição do PSDB expressa-se aqui no seguinte: seria oportunismo sair, como é oportunismo ficar. Afinal, mesmo constituindo um risco, Temer presta serviço aos interesses representados pelo PSDB, seja a nível estratégico (com as reformas anti-populares), seja a nível tático (é Temer quem dá a cara). No plano eleitoral, o PSDB receia ter que avançar sozinho … mas sabe também que, por vezes, é melhor só que mal acompanhado.