Bernie Sanders condena Trump e defende a união das esquerdas
O ex-candidato à presidência dos EUA pelos Partido Democrata, Bernie Sanders, animou uma arena lotada em Londres na noite desta sexta-feira (2). O político socialista discursou contra o aumento da desigualdade social e de práticas de austeridade por governos neoliberais. Bernie também condenou fortemente a saída dos EUA do Acordo de Paris e as políticas anti-imigração do governo Trump. "Ele não representa a maioria dos americanos", afirmou.
Por Leonardo Sobreira de Londres para Brasil 247
Publicado 03/06/2017 15:48
Suas palavras vêm em boa hora para o Reino Unido, que na próxima semana, elege o seu próximo primeiro-ministro, e para o Brasil, como um ponto de reflexão sobre o futuro da esquerda. Na corrida por 10 Downing Street, a atual primeira-ministra Theresa May propõe um projeto de isenções fiscais e de enfraquecimento dos setores de saúde pública e de assistência social. Sua campanha tem se baseado em apelos populistas – porém de eficácia duvidosa – como o mantra "liderança forte e estável no interesse nacional". Do outro lado, o líder da oposição, Jeremy Corbyn, reduziu a liderança dos Conversadores por mais de 20% e sua campanha vem atraindo milhões e unindo os setores da esquerda. A mensagem de Corbyn é clara: qualquer governo que dê prioridade aos desejos dos bilionários presenteados com isenções fiscais e ao mesmo tempo ignore as necessidades da maioria não terá legitimidade moral. No entanto, o apelo de Bernie e de Corbyn não resta somente no embasamento real de suas posições, mas, principalmente, em seus anseios de uma esquerda unida e de uma nova política que gire em torno de um programa social e econômico que beneficie a todos.
Com Bernie tendo recebido mais de 13 milhões de votos nas eleições primárias em 2016 e o apoio a Corbyn aumentando a cada dia, é inegável a capacidade dos setores progressistas de eventualmente chegar ao poder, inclusive em países historicamente dominados pelo neoliberalismo.
Em tempos de isenção fiscal para os mais ricos, cortes na assistência social e redução de direitos trabalhistas, naturalmente se desenvolve uma reação a governos que dão prioridade a uma minoria seleta da população. O tamanho da reação para as próximas eleições presidenciais no Brasil ainda não é certo, porém o surgimento de uma plataforma inclusiva depende em dois fatores principais: a habilidade de líderes de emergirem no cenário politico nacional sem serem manipulados e, o que ja é fato, uma demanda por mudança da maior parte da população.
Sanders teria vencido Trump?
O fato de Sanders ter sido sabotado pelo Partido Democrata nos Estados Unidos foi o que abriu espaco para Trump surgir no cenário americano contra uma candidata enfraquecida moralmente e ruim de retórica, que era Hillary Clinton. É justamente a radicalidade das ideais do novo movimento que amedronta as elites nos países ocidentais: a proposta de líderes do povo para o povo e eleitos democraticamente é vista como uma ameaça existencial aos setores da elite política e econômica. Portanto, é de se esperar que a mídia se esforce em desconstruir candidatos do povo e que as elites se utilizem de mentiras para permanecer no topo. Nos EUA, os resultados deste processo foram catastróficos, mas este não necessariamente tem de ser o curso tomado pelo Brasil.
Em democracias saudáveis, dificilmente se espera que candidatos que têm o apoio claro de uma maioria sejam combatidos fora das urnas. Essa é certamente uma das tendências mais perigosas dos tempos atuais, e o enfraquecimento da democracia, por definição, prejudice a todos.
Bernie terminou seu discurso em Londres aclamando a nova geração. "Essa é a primeira geração na história que decidiu recusar a homofobia, o racismo, e a desigualdade social", afirmou. "Eu terminei essa campanha com mais esperança do que quando eu comecei."
Talvez seja esse o ânimo que dê o suporte necessário para que pautas mais profundas sejam discutidas na próxima campanha eleitoral no Brasil.