“Não haverá pactuação sem eleições diretas”, afirma Dilma
A presidenta eleita Dilma Rousseff participou da abertura do 6º Congresso Nacional do PT, nesta quinta-feira (1º), em Brasília. Ao lado do ex-presidente Lula, Dilma discursou e defendeu a realização de eleições diretas e não poupou críticas ao governo de Michel Temer.
Publicado 02/06/2017 11:03
“Não haverá pactuação no nosso país sem eleições diretas. Não porque tenhamos o melhor candidato, porque perder eleição não é vergonha. Vergonha é ganhar no tapetão, sem voto”, afirmou.
Para Dilma, a saída para superar a crise política e econômica é a eleição direta, que considere a vontade dos eleitores brasileiros. “Queremos Diretas Já por uma questão de sobrevivência do país. Não podemos aceitar que inviabilizem Lula como candidato. Não estou dizendo que, se ele concorrer, é vitória garantida, mas ele tem que ter o direito de ser candidato”, acrescentou.
“Nós sabemos que todo cidadão brasileiro tem direito de ser candidato. O que nós queremos é que não inviabilizem nosso ex-presidente Lula em qualquer processo eleitoral. Não estou dizendo que é garantida a vitória, mas, sim, [que é preciso] garantir o direito de qualquer cidadão competir. Se tiver diretas, Lula é meu candidato”, declarou Dilma.
A presidenta disse que o golpe contra o seu mandato tinha como “motivo estratégico reenquadrar o Brasil econômica, política, social e geopoliticamente, porque durante quatro eleições nós derrotamos o programa neoliberal”. Ela salientou que o golpe também tinha como estratégia “estancar a sangria”, impedindo que esquemas de corrupção que os envolvesse fossem desmantelados. “Eles suspenderam a democracia ao implementar um golpe parlamentar para estancar a sangria. Queriam evitar ameaças que pudessem incriminá-los.”
Ela também destacou que a agenda de reformas que retira direitos dos trabalhadores tem efeito devastador. “Tudo isso faz parte dessa consciência da oligarquia brasileira e dessa política frustrada em quatro eleições que tem ambições desmedidas com a mídia e segmentos empresariais e financeiros. Eles se articularam para implantar o modelo que as urnas não reconheceram como sendo aquele que o povo brasileiro queria”, afirmou.
Dilma também reforçou que o país enfrenta o “aumento de medidas de exceção”. “Daí, precisamos das Diretas Já por uma questão de sobrevivência do país, enquanto país sério e institucional”, completou.
Sobre as revelações trazidas pela delação do empresário da JBS que atingem o governo de Temer, destacou: “Estamos assistindo a esse processo completamente descontrolado e ninguém pode dizer que não estava claro que o que foi gravado não era de conhecimento das instituições de investigação”.
Dilma salientou que as perguntas enviadas a Temer pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) eram um “roteiro” de investigação. “Mais claro, impossível”, disse.
A ex-presidenta ressaltou a necessidade de o governo ter uma reforma política profunda e avaliou que o Brasil continuará “ingovernável” enquanto não forem feitas mudanças no sistema político e sem a democratização dos meios de comunicação.
Destacando o papel da mulher e saudando a homenageada do Congresso, Marisa Letícia Lula da Silva, ex-primeira-dama falecida em fevereiro, Dilma afirmou que sofre perseguição política, ao se referir aos processos que responde. Ela afirmou que é cobrada a apresentar o que chamou de “prova diabólica”, ou seja, provar que não tinha conhecimento do que acontecia.
“Há, sistematicamente, uma tentativa de nos criminalizar. E tem várias formas de nos criminalizar. Uma delas é [dizer]: ‘Eles sabiam’. Isso é a prova diabólica porque, para provar que não sabia, tem que saber aquilo que não sabia. Como você prova o que não sabe? A prova diabólica era muito usada na Inquisição”, disse.