Governadores se mobilizam em defesa de eleições diretas
Governadores de siglas oposicionistas e até de partidos que romperam com o governo Michel Temer, como o PSB, pretendem se reunir para ampliar apoio à realização de eleições diretas no país, o que pode sair, segundo alguns deles, por meio de uma carta pública.
Publicado 02/06/2017 14:19
A intenção do encontro será discutir de forma firme os rumos do país, que podem mudar dependendo da sessão de terça-feira (6) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ou tribunal começa a julgar nesta data, em definitivo, o processo sobre a chapa Dilma-Temer em 2014, com chances de cassar o mandato do presidente da República, ou postergar a decisão com algum pedido de vista.
A posição de vários governantes é que, por conta disso, o debate é “mais que urgente”. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), ex-senador, que está em Brasília para participar do congresso nacional do PT, disse hoje (2), no que chamou de avaliação realista, que somente a oposição não teria forças para aprovar uma proposta referente à realização de eleições diretas no âmbito do Legislativo, nem nas comissões técnicas nem nos plenários das duas casas do Congresso (Câmara e Senado).
Mas Dias vê de forma positiva a vontade da população de ir para as ruas e pedir pelas diretas, o que, segundo ele, tende a ser observado ainda mais, daqui por diante. “O PT tem pretensão de voltar a ser governo e caminhar para fazer o país sair da crise econômica, mas queremos fazer tudo com muito diálogo. E o caminho só pode ser resolvido pela via mais democrática”, afirmou.
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), que esteve na capital do país na última quarta-feira (31) para uma reunião sobre incentivos fiscais para os estados, lembrou que os petistas e os movimentos sociais possuem posição clara pelas diretas e confirmou que está conversando sobre o assunto com outros colegas para que se chegue a uma posição conjunta. Costa negou que o tema tenha sido um dos pontos da reunião que participou, mas destacou que o país precisa ter uma solução que acene para a estabilidade até dezembro de 2018.
‘Apego ao cargo’
Rui Costa foi o primeiro governante a defender, logo que explodiu a última crise política – provocada pela divulgação das gravações de conversas entre Michel Temer e o empresário Joesley Batista negociando o pagamento de suposta propina – que as medidas para contornar a crise precisam ser tomadas com urgência. E a dizer que, se o caminho tiver de ser a antecipação das eleições de 2018, ele concorda, mesmo que isso reduza o seu mandato. “Não podemos ter apego ao cargo num momento desses. Se o caminho tiver de ser assim, precisamos todos ficar acima dos nossos interesses políticos”, acrescentou.
Na Paraíba, o governador Ricardo Coutinho (PSB), que sempre se posicionou contrário ao processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, disse que “o país não comporta mais aventuras políticas” e, por isso, defende a realização das diretas. “Quem troca governante é o povo. Se funciona mantém, se não funciona, troca.” De acordo com Coutinho, sua posição ao lado dos demais governadores se dá porque, a seu ver, “a democracia do Brasil não pode mais sofrer ataque”. “O submundo do capitalismo não pode aprisionar a política e foi que aconteceu. É preciso resgatar a independência da política, diminuindo a influência do poder econômico.”
“Existe uma ação de alguns setores para que o povo deixe de acreditar que é capaz de mudar algumas coisas através da política. Não se pode simplesmente dizer ao povo para desistir do Brasil. Tem que efetivamente olhar para esse país, compreender as suas dificuldades e entender que foram geradas por escolhas coletivas equivocadas, mas uma escolha equivocada pode ser a correta em outro momento”, afirmou ainda o paraibano.
‘Posição inegociável’
Também o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), considera que a atual crise política do país resulta da contradição entre anseios populares, da classe trabalhadora e os setores dominantes. E, por isso, vê a bandeira das Diretas Já como a mais correta. “Neste momento o consenso das elites é no sentido de evitar a contradição que se reflete nos anseios do povo e a luta pelas diretas é o melhor a ser feito.”
O ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner atual secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia e ex-governador daquele estado por duas vezes, se aliou aos governadores. Wagner disse que o centro da luta política não pode ser a discussão da saída ou não de Temer do cargo e que as pessoas precisam continuar nas ruas pedindo eleições diretas.
“A posição do PT é inegociável em torno das diretas”, reiterou. Wagner chegou ao ponto de irritar alguns colegas ao acrescentar que “é preferível ver Temer continuar no cargo a ver um novo presidente eleito por eleições indiretas”. Apesar de ter sido acusado de ter tido um “destempero verbal” com a frase, a declaração de Wagner foi feita em tom de provocação, já que ele próprio lembrou várias vezes o caráter golpista do atual governo e repetiu a frase de que “Temer traiu Dilma”.