PSDB descarta Temer, mas não o PMDB e aposta em eleições indiretas
Enquanto lideranças da base aliada do governo Michel Temer discursam no Congresso Nacional dizendo que, apesar da crise, o país precisa tocar a agenda de votações que tramitam no parlamento, nos bastidores o pescoço de Temer já foi colocado na guilhotina e o debate é como dar uma sobrevida ao governo até que o caminho para uma eleição indireta esteja pavimentado.
Publicado 23/05/2017 14:10
O PSDB, principal articulador do golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff e garantidor da governabilidade de Temer, é o principal interessado nessa movimentação. Mas como os tucanos estão sem asas, após as revelações trazidas pelo flagrante contra o presidente nacional da legenda, Aécio Neves, que foi afastado de seu mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o voo ficou prejudicado.
Segundo fontes, a cúpula tucana não tem dúvidas de que tem que deixar o governo, mas a estratégia é evitar um rompimento imediato para ainda preservar a aliança com o PMDB, já prevendo uma eventual eleição indireta, ou seja, garantir os votos da legenda.
Segundo o colunista do G1, Gerson Camaroti, um integrante da cúpula tucana lhe confidenciou que o PSDB decidiu sair do governo, restando apenas “avaliar o melhor momento para o desembarque”, pois “é preciso manter a aliança em torno da escolha do futuro governo, inclusive com o PMDB”.
Na verdade, os tucanos querem concretizar a pretensão que existia desde a derrota nas urnas em 2014, que resultou na ação de cassação do mandato que tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o poder. E como o Temer não tem condições de governar, mas o PMDB ainda tem votos.
Para isso, já negociam a manutenção de ministérios que seriam contemplados no eventual novo governo, além da participação em postos-chave na Câmara e no Senado. O “núcleo” de sustentação seria o mesmo que sustenta Temer, PSDB, PMDB e DEM, com apoio de siglas como PSD, PP e PR, entre outras.
O presidente em exercício do PSDB, Tasso Jereissati (CE), tem uma reunião nesta terça-feira (23) com a sua bancada na Câmara, ponto mais crítico da aliança. Isso porque desde as primeiras informações sobre a delação da JBS, os parlamentares defenderam o desembargo do governo Temer.
O relator da reforma trabalhista, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), evidenciou o seu desconforto e reafirmou nesta terça (23) que, apesar do seu partido ainda debater a questão, o posicionamento pessoal é de que a legenda entregue os ministérios e desembarque do governo.
“Há um debate que não está concluído em torno do meu partido. Algumas lideranças, como eu, defendem que o partido deva sim deixar o governo, entregar os ministérios… Eu, pessoalmente, defendo isso. Agora, não há um consenso ainda no partido. Nós vamos continuar avaliando e refletindo, dia após dia, a gravidade da crise”, disse o senador.
Como Temer se nega a renunciar, a cúpula do PSDB aposta sua fichas no julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no TSE que está previsto para junho. Acreditam que a corte poderá tirá-lo do poder e ainda jogar a culpa na Dilma. Mas outro fator pode acelerar a decisão dos tucanos. Trata-se da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido feito pela defesa de Temer sobre o inquérito. Caso o Supremo se pronuncie contra o pedido, a saída é imediata.