Bloco da mídia se divide e Globo fica sozinha na pressão pela renúncia
O presidente mais impopular da história brasileira atacou Joesley safadão, o dono da JBS, mostrando o absurdo de uma delação que permite ao “criminoso” lançar uma série de acusações e ir embora do Brasil tranquilamente sem passar um dia na cadeia.
Por Rodrigo Vianna*
Publicado 22/05/2017 10:51
Mas o ponto central da defesa foi outro. Temer abriu seu pronunciamento citando reportagem da Folha neste sábado, que apontara fortes indícios de que houve edição no áudio da conversa entre Joesley e o presidente. Temer encaminhou ao STF pedido para se paralise a investigação até que uma perícia oficial explique de que maneira ocorreu essa edição.
Até aqui falei de Temer, e de como sua defesa foi competente, atacando os pontos mais frágeis da acusação: a impunidade de Joesley e os sinais de adulteração no áudio.
Mas o que chama mais atenção é outro ponto. Os grandes grupos de mídia estão absolutamente divididos nesse processo. Desde o início chamou a atenção a forma açodada (beirando o desespero) com que a Globo agiu. O jornalista (?!) Lauro Jardim noticiou a conversa grampeada sem ter ouvido o aúdio! E escreveu que ali haveria clara anuência de Temer à proposta de Joesley de pagar pelo silêncio de Cunha.
Isso, de fato, não aparece na gravação. Lauro Jardim e a Globo embarcaram numa furada! Por que? Qual era a pressa? Havia sim outros trechos graves na fala, que só depois vieram à tona…
Na sexta (19) a Globo divulgou editorial exigindo a renúncia de Temer. Escrevi aqui que esse editorial me pareceu mais um sinal de fraqueza e desespero.
A Folha não embarcou na aventura da Globo. E passou a mostrar as suspeitas de que o áudio tenha sido forjado. O Estadão, por sua vez, noticiou que um ex-braço direito de Janot trabalha no escritório contratado para negociar a delação de Joesley safadão.
Ou seja: Globo de um lado tenta derrubar Temer, associando-se a Janot e aos procuradores. Folha/Estadão de outro fornecem elementos para mostrar que o MPF e a Globo podem estar agindo de forma açodada e irresponsável.
A divisão na mídia reflete uma divisão mais profunda da qual já falamos aqui: Globo/ Partido da Justiça entraram em colisão total com a chamada direita política (Temer/PSDB/Gilmar Mendes). Esta, por sua vez, decidiu resistir. Com apoio de jornais que parecem ter preferido manter distância da operação comandada pela Globo.
Escrevemos esta semana que o objetivo claro da Globo e dos procuradores é “limpar o golpe”. Temer no poder só ajuda Lula a se fortalecer. Globo e o Partido da Justiça precisam enterrar os políticos conservadores e instalar um governo “técnico” que seja capaz de implantar as “reformas” sem que isso signifique do outro lado o fortalecimento de Lula.
No pronunciamento deste sábado, Temer deu a entender que é vitima de uma conspiração e mostrou que a ideia de gravá-lo no Palácio foi fruto de um “grande planejamento”. Sem dúvida. A pergunta: quem mais participou dessa conspiração? Janot? A Globo?
O objetivo final seria levar Carmen Lúcia ou Henrique Meirelles (que era funcionário da JBS) à Presidência, sob eleições indiretas. Esse o objetivo da Globo.
Há sinais claros de que a conspiração para derrubada pode ter pode ter contado com a participação/anuência do seu ministro da Fazenda. Ouçam de novo o áudio da conversa e reparem como Joesley safadão tenta transformar Meirelles quase num herói: “O Henrique gosta mais de trabalhar do que ir à praia; o Henrique não atende minhas demandas”. Aham…
Olho nos movimentos de Meirelles. E na forma como ele sairá da crise nos próximos dias.
Mas este episódio mostra ainda duas coisas:
1. A família Marinho encontrou pela frente uma gangue de profissionais da política desesperados e dispostos a resistir;
2. A Globo já não fala sozinha e falhou na tentativa de derrubar o governo rapidamente.
Temer vai resistir: um, dois, três meses?
O mais provável é que caia no TSE. Mas Gilmar Mendes (também alvejado nos grampos da JBS) vai ajudar a fazer o serviço de derrubada de Temer? A ver…
Quanto mais tempo Temer ficar, maior a possibilidade de que as reformas percam força e sejam enterradas. Ao mesmo tempo, o movimento de esquerda ganha força nas ruas para pedir Diretas-já.
A divisão da mídia, o açodamento da Globo, e o desespero de Temer podem ser fatores decisivos no prolongamento de uma crise que já é tão grave como as que levaram à Revolução de 1930 e ao Golpe de 1964.