"Perdi a minha reputação com mentiras", afirma Guido Mantega
Em entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega contou como enfrenta uma das faces mais cruéis dos acusados no processo da Lava Jato: a relativização da presunção da inocência promovida pela espetacularização do processo e as delações de réus que buscam se livrar da pena.
Publicado 15/05/2017 10:50
Mantega, que foi ministro da economia entre de 2006 a 2014, conta que afirmou que desde que passou a ser alvo de acusações feitas por Marcelo Odebrecht e outros delatores, "praticamente perdi a minha reputação, com mentiras, diga-se de passagem".
"A minha vida virou um inferno", resumiu o ex-ministro. "Eu me sinto terrível porque minha reputação foi colocada por água abaixo. A repercussão foi péssima, péssima. Passei a ter problemas em restaurantes, no hospital. Não posso ter uma vida normal. É uma humilhação ser chamado de ladrão", relatou Mantega.
A situação enfrentada por Mantega é uma das teses defendidas em artigo publicado em 2004 pelo juiz Sergio Moro em que, inspirado na Operação Mãos Limpas, da Itália, utiliza a opinião pública como mecanismo de punição quando a “carga de prova exigida para alcançar a condenação em processo criminal” não for atingida.
Mantega enfatiza que tem dificuldades em se manter financeiramente por conta da ilações lançadas contra sua trajetória. "Eu poderia ter começado a dar palestras, consultorias. Criei um nome lá fora, fiz o Brasil ser respeitado. E acabei jogado nessa vala. A essa altura dos acontecimentos, depois de trabalhar tantos anos para o governo, depois de ter tantos resultados, eu não esperava. Realmente eu não esperava", disse,
O ex-ministro frisou que as delações de Marcelo Odebrecht e outros delatores são peças de ficção, e diz que eles precisaram acusar autoridades para conseguirem fechar os acordos.
"Porque, para você conseguir uma delação, tem que entregar pessoas do alto escalão do governo. Um ou dois presidentes [da República] e um ou dois ministros. De certa forma é uma exigência. E aí fala do ministro sem provas. Porque não faz sentido essa questão do Refis", afirma Mantega.
"E menos ainda R$ 50 milhões que diz que pedi num bilhetinho. Que bilhetinho? Mostra o bilhetinho! Ele tinha que montar uma história para dizer que tinha propina e inventou essa. Mas foi infeliz porque esse Refis foi feito para Deus e o mundo", acrescenta.
Mantega também contou na entrevista que até mesmo nos cuidados que tem para tratar a saúde de sua esposa, Eliane, que desde 2011 enfrenta tratamento contra um câncer no intestino, tem dificuldades e teme que uma eventual prisão prejudique ainda mais a saúde dela.
"Sim, tenho temor. Eu sou a principal pessoa que cuida da minha mulher, que dá sustentação psicológica para ela. Temo o que aconteceria com ela se eu fosse preso. Se você olhar as acusações, as provas, elas são frágeis, não se sustentam. Eu espero que a Justiça faça justiça", afirma.