Jesualdo Farias: O labirinto da crise
“É inaceitável que apenas a parcela mais pobre da população seja atingida com as consequências das mudanças necessárias para a recuperação da economia e para o equilíbrio fiscal. Da mesma forma, é inaceitável que setores estratégicos para a retomada do crescimento econômico sejam sacrificados sob o argumento de que os gastos públicos estão no limite”.
Por *Jesualdo Farias
Publicado 30/03/2017 10:13 | Editado 04/03/2020 16:23
Não está sendo fácil encontrar caminhos para superar a grave crise política brasileira. Após o golpe parlamentar de 2016, houve um aprofundamento da crise econômica e uma desilusão generalizada da sociedade com a política. Deste pântano, podem emergir oportunistas, que, na maioria dos casos, impressionam no primeiro momento para, em seguida, conduzirem o processo político ao largo da democracia e com desprezo à Constituição. Os principais impactos destes enlevos podem ser a redução das conquistas sociais, mais desemprego e aumento da concentração de renda.
De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil (IDH) parou de crescer em 2015, estacionando em 0,754. Ocupando a 79ª posição no ranking mundial, estamos atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Venezuela e Cuba. São os reflexos das crises política e econômica, que, desde 2014, vêm comprimindo investimentos em saúde e educação e proporcionando um expressivo aumento no desemprego, reduzindo a renda dos brasileiros.
Este quadro exige reformas criativas e estruturantes. Diante deste cenário, não há como evitar sacrifícios à sociedade. No entanto, é inaceitável que apenas a parcela mais pobre da população seja atingida com as consequências das mudanças necessárias para a recuperação da economia e para o equilíbrio fiscal. Da mesma forma, é inaceitável que setores estratégicos para a retomada do crescimento econômico sejam sacrificados sob o argumento de que os gastos públicos estão no limite.
Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação compõem um cardápio adequado para a geração de emprego e renda em tempos de crise. Logo, reduzir investimentos nestes setores só aumenta a crise e prolonga o sofrimento de todos. Já passa da hora de se pensar em um pacto nacional que envolva governos, políticos de todos os partidos, poder judiciário, empresários, intelectuais e movimentos sociais. Não há mais tempo a perder, a crise se agudiza e a sua debelação exige, de todos, um compromisso incondicional com o Brasil.
*Jesualdo Farias é secretário estadual das Cidades e professor titular da UFC.
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